Marat Descartes, Helena Albergaria

O cinema feito no Brasil por jovens nem sempre é sinônimo de um cinema jovem feito no Brasil. Nas últimas temporadas desse seriado chamado filme brasileiro, muita gente apareceu querendo inovar, mas boa parte se dedica a reciclar cinemas de outras épocas e de outros lugares. A dupla de diretores de Trabalhar Cansa segue na contramão: o grande mérito de Marco Dutra e Juliana Rojas é não emular cinemas de outrem, nem se perder em referências e, sim, buscar uma linguagem própria.

E isso se destaca mesmo num filme irregular, com muitos altos e baixos. Trabalhar Cansa tem ótimas ideias, embora nem sempre elas pareçam realizadas plenamente. Existe algo desacertado no timing do filme. Algumas cenas parecem ter o tempo confuso ou errado mesmo. A música, discretíssima, faz falta na composição da atmosfera de terror psicológico.

Outra questão é a da protagonista Helena Albergaria, que raramente acha a velocidade do longa. Talvez esse desencontro seja uma maneira de operar o incômodo crescente da personagem, mas ainda assim a atriz pesa muito na inércia de seu papel. Quando sua personagem explode funciona perfeitamente. Nas demais cenas, parece reprisar outros trabalhos da atriz com a mesma dupla de diretores.

Um grande acerto do filme é a troca de papéis, que permeia quase todas as relações entre os personagens. A esposa toma o lugar do marido como “líder da família”, mas perde o posto dentro de casa. Paralelo a isso, o namoro com o fantástico, marca da dupla, é introduzido paulatinamente, sem trauma à trama central.

A cena final, eu acho boba. Toda a crítica ao novo mercado de trabalho me parece superficial. A não ser a cena do protagonista ao telefone, tentando conquistar clientes. Marat Descartes está ótimo ali – e no resto do filme. Esse momento, sim, um exemplo perfeito de como um comentário crítico pode ser sutil e inteligente. Entre altos e baixos, Trabalhar Cansa é o melhor filme brasileiro do ano. Pelo menos, por enquanto.

Trabalhar Cansa EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Trabalhar Cansa, Marco Dutra e Juliana Rojas, 2011]

Comentários

comentários

Um pensamento sobre “Trabalhar Cansa”

  1. Maior bomba esse filme. Trabalhar Cansa e Serbian Film por enquanto os piores do ano.
    Esse Trabalhar Cansa mais parece essas comédias e filmecos da Globo Filmes. E o final então chega a ser vergonhoso.
    O filme é uma piada de tão ruim.

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