Eu Receberia

Visceral é um adjetivo bem comum aos textos sobre livros e filmes escritos por Marçal Aquino. Visceral parece traduzir o estilo intenso, muitas vezes furioso e quase sempre sem amarras do homem. Mas, no caso de Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, filme adaptado do livro homônimo de Aquino, a palavra mais apropriada talvez seja outra: vivo.

Beto Brant e Renato Ciasca encontraram um ponto exato para contar a história de amor que nasce marginal num cenário à margem do mundo. Parecem partir do pressuposto de que aquela relação está imune a tudo o que a cerca, inclusive aos pecados cometidos pelos próprios diretores, como a montagem que abusa de fades outs ou à inserção de um contexto histórico que nunca se resolve muito bem.

Esses paradoxos só reforçam a impressão de que os cineastas os enxergam insignificantes. O amor que se estabelece e que é um amor sujo, simples, espontâneo segue em linha reta enquanto todo o resto passa na perpendicular e precisa desviar de caminho para não ser atropelado por um talento que não imaginava que cabia em Camila Pitanga, na melhor interpretação de sua vida e na melhor interpretação feminina do ano.

Camila é uma atriz de uma ousadia surpreendente. Além da coragem em protagonizar várias cenas de sexo onde não há pudores em expor as formas de uma das mulheres mais lindas do Brasil, ela se entrega apaixonadamente a uma personagem que passeia pelos mais variados humores e estados de sanidade e, quando não está perfeita, consegue emprestar dignidade a todos.

Se a culpa é de Marçal Aquino ou dos diretores ou mesmo de Camila Pitanga, eu não sei, mas Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios foi um dos sopapos mais bem-vindos deste ano. Um filme que trafega sem medo pela possibilidade do excesso, pelos pecados das experimentações, pela proximidade de perder o foco e que sai ileso e rico, a ponto de nos oferecer um belo sorriso antes de ir embora.

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[Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, Beto Brant e Renato Ciasca, 2011]

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