Gaghan, que por tudo o que foi divulgado na imprensa, teve bastante dificuldades para realizar o filme, que tem por objetivo ser uma visão multilateral do funcionamento da indústria do petróleo, que o subtítulo brasileiro deixa, como de praxe, tão obviamente explícito. Pois bem, enquanto retrato da complicada questão, que, bem além do petróleo, envolve política, religião e cultura, Syriana é um exercício bastante satisfatório. Quase todas as histórias são bem apresentadas e resolvidas. O mosaico pode não ter tanta profundidade, mas dispara para todos os lados e geralmente acerta em algum lugar bem parecido com um alvo.
O que mais se pode louvar no filme é como ele não tenta seguir a fórmula de um thriller político, com uma historieta central que vai prender a atenção do espectador até o final. Não há um assassinato a evitar, um culpado a prender, uma notícia para ser levada aos jornais. Não é um Todos os Homens do Presidente ou um A Conversação, dois belos filmes (o último um excelente filme). Syriana tem tantas personagens – e seus “episódios” são tão completamente importantes para alcançar o painel proposto por Gaghan – que o filme se aproxima mais de um Robert Altman, sobretudo porque não há exatamente esse eixo central.
O texto é bastante, digamos, engajado, mas passa ao largo de ser panfletário. Gaghan apresenta muito bem a história do garoto árabe que, aos poucos, se envolve numa luta religiosa que não é sua e assume um discurso que não é seu. Há momentos em que pincela tentar ser definitivo, como no discurso empostado sobre a corrupção e como ela é importante. O texto é bem escrito, mas a vontade de dizer a “verdade” atrapalha um pouco seu intento.
A história menos bem resolvida é a de Matt Damon, justamente a mais fácil de entender, a mais linear. Em determinado momento, fiquei questionando o porquê da personagem. Seria para que fosse possível aquela cena final? Ou seria para apresentar o príncipe de Alexander Siddig, de longe o melhor ator do filme, que bem que merecia mais espaço. Seu diálogo com Damon sobre o que ele pretende para seu país é uma das melhores cenas. E George Clooney, Oscar de coadjuvante, me surpreendeu. Em que bom ator ele se transformou. Aqui, renega toda sua “linha de representação”, despindo-se do quê sedutor para fazer um homem obcecado, sem um pingo de exagero.
Syriana – A Indústria do Petróleo
[Syriana, Stephen Gaghan, 2005]
Eu acho que fotografia do Robert Elswit não é apenas não ter cor e estourar contrastes. Há um belo trabalho de luz e de criação de enquadramentos. Você achou o filme arrastado? Eu achei justamente o contrário, curto e polpudo (ou seja, parece que se disse muito em pouco tempo).
Pretendo revê-lo. Estes últimos dois meses têm sido especialmente complicados para mim.
“Syriana” é bom, mas um pouco confuso…vou ter que rever o filme para entendê-lo melhor, mas adorei a interpretação de Clooney e fiquei sensibilizado com o problema que ele obteve na médula depois da cena da tortura. Ainda assim, prefiro “Boa Noite”, o melhor da safra do oscar até agora! Digo isso, porque o soberbo e melhor filme de Woody Allen, “Ponto Final” estréia semana que vêm…
Estou bem de acordo com seu texto, mas acho “Good Night…” um filme muito superior. O que me incomodou em “Syriana” foi justamente a ingenuidade, mas é claro que a tentativa é louvável. Também acho que honestidade é um dos conceitos-chave a ser aplicado em obras de arte.