Nada como tempo para pagar as dívidas. Sofia Coppola teve muita coragem de continuar sua trajetória no cinema depois do massacre a que foi submetida no início de sua carreira, ainda como atriz. Em 1990, a crítica, que já tinha decidido que Francis Ford Coppola não tinha necessidade de continuar sua saga de mafiosos, destruiu O Poderoso Chefão – 3ª Parte, culpando justamente o desempenho de Sofia como Mary Corleone ao suposto fracasso artístico do filme. As reações jogaram Sofia Coppola num limbro de quase uma década, que terminou apenas com sua estréia como diretora. As Virgens Suicidas (99) é um filme sensível e forte que conquista pela delicadeza com que apresenta uma história tão triste. O segundo trabalho da cineasta é igualmente surpreendente. Se o longa de estréia aposta num cinema independente quase clássico, Encontros e Desencontros mostra é um filme extremamente contemporâneo na maneira de filmar e nas discussões que desperta.
Para começar, Sofia escolhe uma dupla inusitada: um Bill Murray, que a cada ano que passa ganha cada vez mais o status de ator cult, e uma inspiradíssima Scarlett Johansson, uma menina que confirma um enorme talento numa boa seqüência de filmes independentes. Os dois são os protagonistas de um encontro num hotel em Tóquio. Chegam insatisfeitos com o que são, o que fazem e com quem estão e encontram, um no outro, pousos interessantes pelos quais deixam se envolver. Sofia Coppola usa o artifício da deserção – ainda que temporária – para desestabilizar seus personagens. O Japão desconhecido para ambos, no entanto, é o grande senão do filme porque é apresentado de uma maneira ingenuamente preconceituosa e não raramente patética. No entanto, o cenário reforça a necessidade de identificação que os protagonistas perseguem.
O melhor do filme é que Coppola não cria uma simples história de amor. Mas uma história de encontro. De duas pessoas que, num determinado momento de suas vidas, estavam juntas no mesmo lugar. Não há exigência de redenção ou revolução, mas apenas a procura de tranqüilidade passageira e conforto. Encontros e Desencontros é assustadoramente real – e pertubador – quando mostra que chega uma hora em que não dá pra disfarçar a insatisfação dentro de nós mesmos. Bill Murray, um ator normalmente associado a um tipo de personagem, tem diversificado suas personagens, processo que teve seu ápice no ótimo Três é Demais (98), de Wes Anderson, e que ganha espaço neste filme, mas o destaque absoluto na área das interpretações é de Scarlett Johansson, que está simplesmente perfeita como a menina inteligente que descobriu que casou com um idiota – e procura aquele algo mais que nunca consegue alcançar. No personagem de Murray, um ator famoso que ganha a vida com comerciais de whisky ela encontra um possível parceiro. Não um parceiro sexual ou amoroso, mas um amigo, um cúmplice. A cena final, ao som da maravilhosa Just Like Honey, hino do The Jesus and Mary Chain, reforça essa cumplicidade com o sussurro. Um segredo que nem eu e nem você precisamos saber.
Encontros e Desencontros
[Lost in Translation, Sofia Coppola, 2003]