Sabe o que é um plano perfeito? Um plano perfeito é aceitar fazer um filme de assalto, ser bancado por um grande estúdio, e utilizar a provavelmente muito boa soma de dinheiro para fazer mais um dos filmes autorais que fizeram sua fama, que o transformaram num grande diretor. A obra de Spike Lee é provavelmente uma das mais politizadas que apareceram no cinema norte-americano nos últimos tempos. Sua obra é conceitual e, a cada filme que passa, Lee se mostra fiel a seus conceitos, ao que acredita que é sua missão.
Se fosse apenas um filme de assalto, provavelmente, O Plano Perfeito já seria um filme bom. O roteiro, sem as entrelinhas, já é um bom roteiro. É bem montado, bem fotografado e tem um bom elenco. E Spike Lee, como bom diretor que é, saberia aproveitá-lo muito bem, e transformá-lo no que o acusam ser: um belo filme de ação, divertido, inteligente, que homenageia os grandes – há vários – filmes com este tema. Mas nós nunca saberemos como seria O Plano Perfeito, o filme de assalto, porque o filme que Spike Lee dirigiu é bem mais do que isso. É, mais uma vez, um filme sobre etnias.
Com as entrelinhas, o roteiro de Russell Gewirtz, multiplica sua abrangência, seu alcance. Em praticamente todas as cenas, o filme abre espaço para a discussão étnica, criando um painel sobre a diferença. O texto ganha novos significados depois do 11 de setembro de 2001, evento sobre o qual Spike Lee já havia refletido no clássico moderno A Última Noite (2002). Hoje em dia, falar do 11 de setembro não é exatamente um grande mérito. Somente este ano, quatro filmes com este tema devem chegar aos cinemas. Até o Oliver Stone viu que ali tinha material para ele. Mas esqueça tudo isso. Spike Lee fala sobre o 11 de setembro muito antes de 2001. Na verdade, ele fala sobre algo muito maior.
A complexidade de O Plano Perfeito está em como o diretor mete a picareta em cada cena para inserir as suas questões habituais. Questões que são as mesmas de sempre, mas que não moram em lugares comuns. As repórteres são negras, chicanas ou orientais. O policial é o negro e o bandido é o de sotaque britânico. Intolerância à diferença? É sobre isso também, mas, mais do que isso, é sobre mudar de posição. Olhar de longe. Se A Última Noite já mostrava Spike Lee um passo adiante do seu “mundinho”, este filme consolida essa fase mais madura. Lee integra seus temas tão bem à linhagem do filme que é possível assisti-lo como se quiser. Se você viu o O Plano Perfeito como um filme de assalto inteligente, beleza. Se você o viu como algo mais elaborado, muito bom. O filme joga a bola para você.
O Plano Perfeito ½
[Inside Man, Spike Lee, 2006]
bem… nao sei oq vc quer dizer com “documentário espetáculo”, mas a meu ver solanas certamente nao faz o tipo – contundência sim, sensacionalismo não.
abraço!
Vou olhar, sim, mas desde já aviso que eu não gosto nem um pouco desses documentários-espetáculo de hoje em dia. E quanto ao Michael Moore, acho que qualquer um é melhor do que ele.
realmente… o plano perfeito é sensacional, melhor filme q assiti esse ano, colado com memórias del saqueo (solanas.. pqp… esse cara bota Michael Moore no chinelo). Boa crítica, deu conta da parte étnica q faltou eu falar na minha (criticamos este filme tb, dá um olhada).
abraço!:)
Melhor é saber que vc comentou O Plano Perfeito ao som de Nina Simone… isso é o que eu chamo de casamento perfeito! Ainda preciso muito hablar contigo!
Guiu
Filmão mesmo, de ver aplaudindo desde a primeira cena, com aquele hit indiando pegajoso. Grande Spike, me fez até rever Faça a Coisa Certa essa semana, outro filmaço.