O filme de estréia de Mike Mills tem a melancolia e a inquietação que faltam na maioria dos indies norte-americanos de hoje em dia, como Hora de Voltar, de Zach Braff. Atualmente é lei ter personagens perdidas no mundo, mas geralmente isso resulta em falta de direção e em falta do que dizer. O grande trunfo deste filme é saber muito bem para onde ir e usar isso em seu favor. O protagonista alguém que começa a se confrontar com um mundo mais palpável e tem que saber atravessar estas mudanças. Sua luta se materializa em largar o hábito de chupar o dedo.
Com um ponto de partida tão assumidamente bobo, Impulsividade vai além de todos seus primos. Passa raspando nos clichês do cinema-indie-para-festivais norte-americano, mas quase sempre sai com inteligência destas armadilhas. É aí que ele se torna sério, maduro. Há uma bela discussão sobre maturidade. O tempo e o espaço são sempre limítrofes. Tal qual sua personagem principal, o filme mora naquele hiato entre a adolescência e a idade adulta, o que permite que ele seja sério com frescor, que ele seja jovem com maturidade. Lou Taylor Pucci é ótimo, assim como seu irmão, melhor ainda, mas o destaque do elenco é mesmo Vincent D’Onofrio, no melhor papel pós-Nascido para Matar, que está brilhante como um homem resignado, conformado com o que já se estabeleceu.
Já A Lula e a Baleia é uma das melhores crônicas familiares norte-americanas em muito tempo. Faz uma belíssima mistura de melancolia com referências pop (seja nas citações do roteiro, seja na trilha) sem aquele quê de “olha como eu sou inteligente” e consegue dar densidade aos dramas das personagens, em plenos anos 80, a década perdida. O elenco é uma pérola: desde os dois garotos a Laura Linney, sempre bem, e Jeff Daniels, talvez no melhor papel (e interpretação) da sua carreira.
Há uma cena muito boa. Enquanto o protagonista, abalisado por sua pequena crise pessoal, se permite sair do prumo e fazer algumas loucuras (com a cumplicidade dos pais), seu pequeno irmão, de uns 12 anos, tem que segurar a onda da casa e solta a melhor frase do filme: “você acha que é fácil ser o normal?”.
Os “filmes sobre famílias” geralmente morrem na intenção, mas aqui o resultado é riquíssimo. O esfacelamento da família, que desmorona devagarzinho, com as personagens se sustentando suas relações umas com as outras por um fio, surge não como determinista ou definitivo, mas na forma de procura pelo ideal, pela plenitude. Noah Baumbach é o co-roteirista de um dos melhores filmes lançados no ano passado no Brasil: A Vida Marinha com Steve Zissou. Não é à toa que Wes Anderson produz este filme. Baumbach traz dos filmes de seu colega a mesma intimidade com a falta de perspectiva que Anderson traduz tão bem. Uma meta de muitos e uma realidade para pouquíssimos.
Impulsividade ½
[Thumbsucker, Mike Mills, 2005]
A Lula e a Baleia ½
[The Squid and the Whale, Noah Baumbach, 2005]
Pô, só adianta aí se é bom, ruim, medíocre, etc.
Consegui.
Vou tentar fazer um texto hoje à noite, mas eu tô tão cheio de coisas que não posso prometer.
Conseguiu ver Munique?
Rodrigo, do jeito que “A Lula e a Baleia” está bombado, acho que o filme chega aí, sim.
Eu to louco para ver A Lula e a Baleia, mas tenho medo de que não estreie em Fortaleza. E Thumbsucker parece ser legal; o poster indica algo foda.
O filme é muito bom.
Achei genial a sinopse de “Thumbshucker”.
Amanhã tem cabine para imprensa de “Munique”. Rogo aos céus para não perder.