Vazio existencial indie

A memória para ser o tema central de um certo cinema independente norte-americano feito hoje em dia. Mais que ela, a nostalgia. O retorno ao bucólico período entre o fim da infância e o início da vida adulta. Impressiona o número de filmes que tratam do assunto, que se dedicam à “volta pra casa”, ao confronto com a família, os amigos, os amores, o passado. O cinema independente norte-americano de hoje, ora vejam, vive do passado.

A estréia de Zach Braff na direção de um longa-metragem é um belo exemplo deste, digamos, setor. Um filme com intenções pequenas: identificação, a maior delas. E um filme com resultados pequenos. Talvez, sobretudo, por causa de sua subserviência a um modelo gasto, geralmente associado a uma busca incessante por algo que nunca assume uma forma muito sólida. Algo que mesmo o autor não sabe muito bem o que é. Conforto, reordenação do caos, discussão de relação.

O tom nostálgico, quase choroso, multiplicado pela trilha sonora (que tem muita coisa boa – mas sempre desconfie de um filme que começa com um hit do Coldplay), parece clamar por piedade, atenção. Zach Braff deve precisar muito de um afago. Talvez conseguisse com mais facilidade se tivesse abdicado de ser ator já que não tem muito talento para isso. Seu Andrew, além de perdido na vida, não é muita coisa. E sua perdição também nunca é muita coisa.

A imaturidade do filme se cristaliza no final preguiçoso. Braff fecha as arestas, resolve pendências em três ou quatro frases, descobre um caminho. A vida independente norte-americana é bem mais fácil. Pelo menos no cinema, ao som do Colplay.

HORA DE VOLTAR
Garden State, Estados Unidos, 2004.
Direção e Roteiro: Zach Braff.
Elenco: Zach Braff, Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Ian Holm, Method Man, Jean Smart.
Fotografia: Lawrence Sher. Direção de Arte: Judy Becker. Música: Chad Fisher. Montagem: Myron Kerstein. Figurinos: Michael Wilkinson. Produção: Pamela Abdy, Gary Gilbert, Dan Halsted e Richard Klubeck. Site Oficial: Hora de Voltar.

nas picapes: Judas, Raul Seixas.

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