Com o perdão da palavra, o mundo anda mesmo por caminhos bem tortuosos. É o que diz Manoel de Oliveira em seu penúltimo filme. Habilidoso, o diretor nos convida a acompanhar o cruzeiro de mãe e filha por alguns dos lugares mais importantes da história da Europa e, por conseqüência, do mundo – já que o mundo era a Europa. Numa aventura turístico-histórica que reconstitui guerras, conflitos e disputas de povos e impérios, somos apresentados (ou relembrados) a fatos, datas e personagens que participaram da ascenção e decadência de civilizações.
É quando o cineasta mostra que a história, “a nossa música”, se ergueu a partir da violência, da intolerância. Em cada porto, um novo passageiro sobe ao navio onde viaja nossa dupla de protagonistas. Depois de algumas paradas, Oliveira compõe sua releitura da Torre de Babel, com uma mesa onde todos falam – e se entendem – com línguas diferentes. A partir daí, a discussão é que o foco é no mundo de hoje, da União Européia ao reflexos da globalização (talvez a palavra mais feia de todas). Oliveira cobra entendimento entre as pessoas, entre os povos, entre as diferenças. Talvez seja por isso que seu filme tenha um final tão chocante. Para chamar a atenção e dizer que tem algo de errado por aí.
Um Filme Falado *****
[Um Filme Falado, Manoel de Oliveira, 2003]