Pequena história de guerra

Ser recrutado à força pelo exército ou se oferecer como mão-de-obra para a guerrilha. As opções não são nada boas para os garotos às vésperas de completar doze anos em El Salvador. Em mais de uma década de guerra civil, muitas histórias tristes. Uma delas é a de Oscar Torres, que ganhou versão cinematográfica romanceada em Vozes Inocentes, filme roteirizado por ele mesmo. Histórias reais muitas vezes rendem bons filmes, tocam o espectador. Este filme, com a inocência perdida de suas criancinhas, se equilibra entre o tom emocional e o sentimentalismo barato.

Os lugares comuns começam na cena de abertura, com um grupo de garotos sendo conduzidos como prisioneiros de guerra. A narração em off já clama pelo choro: frases esparsas, respiradas, melancólicas. Toda a introdução acontece embaixo de chuva. Chuva que se repete em várias cenas tristes ao longo do filme. A câmera lenta é usada para prolongar o sofrimento dos personagens. A trilha, ora bonita, ora chorosa, cortesia do brasileiro André Abujamra, ajuda a dar o tom imposto pelo diretor Luis Mandoki.

Mas há méritos em Vozes Inocentes: seqüências bem resolvidas, como a música que some quando o rádio é atirada na água, ou a criação do ambiente familiar suburbano e miserável do povoado onde acontece a trama. Existe também um protagonista mirim com talento suficiente para segurar a história e uma preocupação, mesmo que muito rápida, em adotar um posicionamento político (se bem que ver Mandoki alfinetar os Estados Unidos parece bem estranho quando se conhece a base de sua filmografia).

O que causa grande incômodo no filme é esse tom intermediário, que confunde sentimentalismo e encantamento típicos a uma pequena história. Não é o caso de minimizar o sofrimento de ninguém. Por si só, a trama teria um belo impacto emocional, mas nas mãos de Mandoki ganhou uma infinidade de lugares comuns para forçar o choro do espectador. Não fosse tão maniqueísta às vezes, Vozes Inocentes funcionaria muito melhor.

VOZES INOCENTES
Voces Inocentes, China/Hong Kong, 2004.
Direção: Luis Mandoki.
Roteiro: Oscar Torres e Luis Mandoki.
Elenco: Carlos Padilla, Leonor Varela, Gustavo Muñoz, José Maria Yapzik, Ofelia Medina, Daniel Gimenez Cacho, Jesús Ochoa.
Fotografia: Juan Ruiz Anchía. Direção de Arte: Antonio Muño-Hierro. Montagem: Aleshka Ferrero. Música: André Abujamra. Produção: Lawrence Bender, Luis Mandoki e Alejandro Soberón Kuri. Site Oficial: www.vocesinocentes.com .

rodapé: longa vida a Richard Linklater. Escola de Rock, revisto recentemente, não perdeu nenhum miligrama do frescor. É um filme pro resto da vida. Um belíssimo filme sobre amor. Amor que passa de pai para filho.

nas picapes: Frank Sinatra, do Cake.

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