Terra Prometida, de Amos Gitaï.
[Promised Land, França/Israel, 2004]
Contrabando de mulheres do Leste Europeu para Israel. Amos Gitaï acerta no tratamento dado ao tema. A prostituição ganha tom documental, tanto na fotografia digital (finalmente uma câmera digital acertada) quanto na quase abolição do diálogo. A maioria das poucas palavras que se houve é ruído e não um diálogo feito para que o espectador ouça. Este assume uma posição de voyeur natural, como se não houvesse filme.
Questão de Imagem, de Agnès Jaouï.
[Comme une Image, França, 2004]
A velha história do homem de negócios muito ocupado, preocupado com os negócios, o dinheiro, a badalação, e displicente com a família e os amigos. Tudo isso travestido de comédia moderna francesa, com diálogos ágeis e bons atores. Pois é, O Gosto dos Outros (2000) era melhor.
Edukators, de Hans Weingarten.
[Edukators, Alemanha/Áustria, 2004]
O que transforma este filme num belo filme é que ele é tão convicto de suas ideogogias que se torna quase ingênuo, adolescente. A presença do mesmo Daniel Bruhl de Adeus, Lênin (2003) no elenco reafirma essa idéia. O personagem dele e mais um colega invadem mansões, rearrumam os móveis e deixam bilhetes para assustar os riquinhos. Até que alguma coisa dá errado. Na melhor cena do filme, surge a pergunta: como você, com um passado destes, se transformou no que você é? Resposta: acontece sem a gente sentir. Não precisava de “Hallellujah” três vezes no final (a trilha já é boa o suficiente), anunciando redenção. Não precisava do bilhetinho na parede. Os Educadores faz parte de um cinema alemão que não é chato. Isso já é bastante coisa.
Herói, de Zhang Yimou.
[Hero, China/Hong Kong, 2002]
Não há como dizer outra coisa: Herói é um filme fraco. A intervenção de Zhang Yimou no mundo das artes marciais e dos filmes históricos orientais ficou anos-luz aquém do que Ang Lee fez em O Tigre e o Dragão (2001). Com um roteiro mal amarrado, cheio de buracos narrativos e com tom nacionalista desnecessário, Yimou se sustenta no esplendor visual que pretende criar. Mas comete novo pecado. Na intenção de fazer o filme mais bonito do cinema, carrega na artificialidade de combates (cujo tom nunca é o da fantasia, mas o da inverossimilhança), no cálculo exarcebado na construção da fotografia (as belíssimas cores ganham a redundância dos cenários e o degradê beira o exagero), e nos elementos kitsch, como o vento que faz os figurinos esvoaçarem mais que em comercial de Molico à beira-mar. É uma pena, mas Herói é o filme mais fake do ano.