AMARELO E AMARELADO

Do Oscar e de outros comentários atrasados e sem importância numa noite de sexta onde não há muito o que fazer

O amor é filme e o cineasta é quem mais ama sua própria obra. O documentarista sobe ao palco e diz: “pensei que vocês nunca reconheceriam meu trabalho”. Ninguém merece. Ainda mais quando o filme (vencedor) em questão é Sob a Névoa da Guerra, um produto formal que mostra como um país conduzia sua política externa, narrado em primeira pessoa onanista por quem comandava tudo aquilo. A trilha imponente completa o enterro. O filme dos Friedman, o maior concorrente, nem é tão ousado assim, mas é bem melhor que o trabalhinho de Errol Morris.

O Billy Crystal conseguiu um fato inédito na sua tricentésima aparição. Ele não foi a coisa mais chata da noite. Desta vez, ficou em segundo lugar. O Oscar do Bush foi chato, chato, e não acabava nunca. Não sei se vocês repararam, mas os prêmios aos quais o Brasil concorria ficaram todos para o final. Rapaz, como esse norte-americanos nos odeiam!!! Morte à águia! O mais chato do Oscar foi ouvir os comentários depois: “um absurdo Cidade de Deus não ter levado nada – esse prêmio é deles mesmo”. Ué… seria de quem se não fosse deles?

Cidade de Deus, um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos (não, não é o melhor, Rodrigo Salem), é um trabalho bem bonito, apesar de ter encontrado mais opositores na academia e imprensa brasileiras que na favela onde foi filmado. Parece que os moradores da favela não acharam que eram retratados como demônios, como se disse por aí. Pois bem, todo mundo apostava num Oscarzinho que fosse. Não foi. Mas se você pensar direitinho, edição rápida nunca foi muito a cara do Oscar, né? Forrest Gump bateu Pulp Fiction em 94. Na edição.

E O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei? Ganhou foi tudo. Se tivesse sido indicado em fotografia e efeitos sonoros, provavelmente tiraria os dois prêmios do filme do Russell Crowe. Dizem que o Rubens Ewald Filho, que deveria ganhar o Oscar de melhor maquiagem, disse que mereceu tudo. Olha, não sei se tudo (e odeio concordar com o colunista social do cinema), mas boa parte. É um filme muito bom. Gosto mais do primeiro filme, mas esse é quase tão bom. Aí fica aquela briga chata entre os fanáticos do a favor e os fanáticos do contra. Esse povo não deve ter o que fazer.

O Oscar deste ano foi tão previsível que até Sean Penn ganhou seu prêmio, cumpriu seu papel e soltou uma indiretazinha pro governo, disse que não havia melhor ator e saiu pra comemorar com seu Oscar. Charlize Theron chorou, falou da mãe, o de praxe. Tim Robbins, rapaz educado, falou com todo mundo que havia trabalhado com ele no filme antes de subir ao palco. Gostei foi da Renée, morrendo de medo de levar bomba pela terceira vez. Acharam demais. Ainda bem que foi pelo melhor papel dela entre os três indicados.

As duas melhores piadas da noite (a vida é uma piada de mal gosto) vieram de dois momentos muito distintos: uma foi pensada e pré-gravada. A outra foi espontânea. No clipe de apresentação do Billy Crystal, um daqueles bichos gigantescos de O Retorno do Rei esmaga o mala do Michael Moore. Não sei se foi o Bush que mandou (se foi, eu voto contra porque eu sou político), mas que foi engraçado, isso foi. O segundo foi o da Annie Lennox. Fascinada com o Oscar na mão, ignorou a piada que o Will Ferrell e o Jack Black fizeram sobre a música que corta os discursos empolgados e falou tanto que não deixou tempo para a Fran Walsh. Aliás, por que colocaram a equipe do filme do Peter Jackson no fundão?

E o Blake Edwards, hein? Querendo pregar peça. Eu até fui enganado por alguns segundos. Eu sou ingênuo. Eu gostei de Bonequinha de Luxo.

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