O ano de 1987 foi o ano em que quatro grandes cineastas resolveram falar das crianças. Curiosamente, em quatro belos filmes onde o cenário era a Segunda Guerra Mundial. Em A Era do Rádio, o garoto de Woody Allen fica bestificado com o avião inimigo que ele avista em pleno litoral de Nova York. A família do menino de Esperança e Glória, de John Boorman, tenta se sustentar nos cacos de sua casa atingida pelas bombas alemãs em Londres. Christian Bale fica sozinho e sem rumo na confusão que toma conta da China ocupada em Império do Sol, de Steven Spielberg.

Mas o melhor dos filmes sob a ótica de uma criança neste ano veio da França e das mãos de Louis Malle. Adeus, Meninos é mais que um filme sobre as pequenas histórias da Segunda Grande Guerra. É mais que um filme sobre crianças e um colégio interno. É um filme sobre amizade e amor. Julien Quentin é o típico menino da classe alta francesa, sozinho e carente num internato do interior do país. Sua solidão termina com a chegada de Bonnet, judeu refugiado pelos padres da instituição.

Rechaçado a princípio pelos colegas, Bonnet revela ser um aluno sublime e um pianista talentoso. As qualidades chamam a atenção de Julien, que se reconhece no colega e encontra um porto para fugir da solidão. Solidão intelectual, solidão de isolamento. Julien se encanta e se aproxima aos poucos. Cada palavra na sala de aula ou cada ato do seu eleito no recreio é motivo para os belos olhares apaixonados do protagonista, que necessariamente não nutre uma paixão carnal pelo outro, mas uma admiração absoluta, um encantamento sem precendentes.

É assim que é a amizade, não é? O resultado de uma busca incessante pela identificação sobre todas as diferenças. Julien ama Bonnet pelo que ele se revela ser a cada encontro, a cada dia, a cada pequeno gesto. O mais delicado no filme de Louis Malle é que o período de aproximação entre os dois personagens é muito menor do que o tempo que eles passam longe um do outro. Um tempo de observação e conhecimento. Um tempo de descobertas e revelações. Talvez de desejos contidos, talvez de pura identificação. Onde um gesto simboliza um discurso inteiro e um olhar revela que o amor surge de uma hora para outra. Sem avisar. E que é bom que seja assim.

Adeus, Meninos EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Au Revoir, Les Enfants, Louis Malle, 1987]

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