Parece um daqueles filmes que são iscas pro Oscar: um personagem real, imobilizado do pescoço para baixo, que ousa desafiar seus limites e oferece um exemplo de superação. As Sessões seria somente mais um melodrama banal sobre pessoas com barreiras físicas não fosse por dois pontos. O primeiro é que o diretor Ben Lewin encontrou em John Hawkes um intérprete perfeito para o tipo de filme a que ele se propõe: um trabalho sério, mas bem humorado, que comove justamente por fugir do tratamento piegas com que geralmente se banha este “gênero cinematográfico”. O ator, descoberto tarde por Hollywood, já deu alguns belos exemplos de como driblar dos estereótipos, mas este é seu trabalho mais delicado. Hawkes oferece um sopro de ar fresco para o personagem, tornando-o irresistível sem fazer nenhum esforço.
O segundo ponto que diferencia este filme atende pelo nome de Helen Hunt. Fazia tempo que a atriz não aparecia com destaque num filme e neste aqui ela oferece seu papel mais corajoso. Helen está luminosa. Ela interpreta uma terapeuta sexual, uma mulher casada que se dispõe a fazer sexo com pessoas impossibilitadas como parte de um procedimento terapêutico. Sob pagamento. Segue regras rígidas para evitar envolvimento com os pacientes e evitar confusões com a natureza de sua profissão. Às vésperas de completar 50 anos, a atriz se despe completamente, de roupas e de pudores, para viver a personagem. Mostra seu corpo com riqueza de detalhes, mas parece oferecê-lo para o espectador com o mesmo cuidado e seriedade com que o entrega para seu paciente. Um trabalho de uma dignidade impressionante que enobrece este pequeno filme.
As Sessões
[The Sessions, Ben Lewin, 2012]
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