O filme mexicano Depois de Lúcia, que ganhou o prêmio da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes, é de difícil digestão. Em seu segundo trabalho como diretor de um longa-metragem, Michel Franco visita o ambiente escolar para analisar os limites do comportamento do adolescente médio e não poupa o espectador, fazendo um retrato amargo e pessimista do futuro ser humano.
A protagonista é Alejandra, uma jovem que se muda com o pai para a capital do México, fugindo de um trauma relacionado a sua mãe. Na cidade grande, os dois tentam se adaptar à nova realidade, mas se o pai tem mais dificuldade para enfrentar a solidão, a garota, que rapidamente conhece outros adolescentes e parece começar a reconstruir sua vida, surge no centro de um violento processo de bullying.
O tema delicado é um desafio, mas a condução imposta pelo diretor é a mais bruta possível, embora sob uma égide documental. O olhar de Franco é fatalista e esse determinismo prejudica um pouco o longa, que é rigorosamente bem filmado, abusando de uma câmera pouco passional que não oferece conforto para os personagens e sufoca quem assiste ao filme.
A inércia da protagonista diante do comportamento dos colegas incomoda quase tanto quanto a insistência do diretor em retratar detalhadamente a violência psicológica (e por vezes física) pela qual ela passa. Há cenas que parecem só existir para promover indignação, maniqueísmo repetitivo do cineasta. Com um tema como esse e um mecanismo impositivo, Franco sabe que nunca passaria em branco. O desfecho do filme, assumidamente revanchista, foge do consensual ao deixar várias questões em aberto, mas não deixa de recorrer a uma simplificação que tanto serve para atender aos anseios de quem se sente ofendido pelo longa como para dar a obra um equilíbrio torto que, de uma forma ou de outra, arredonda a proposta do diretor.
Depois de Lucia ½
[Después de Lucia, Michel Franco, 2012]