Depois de Maio

Olivier Assayas é um cineasta consciente de seu papel social, mas parece muito mais interessado em investigar as ambições e motivações de seus personagens. Em Clean, ele acompanha o dilema de uma mãe, que se vê obrigada a escolher entre o filho e o sonho de ser uma cantora. O sonho, este parece ser um objeto de estudo para o francês. Depois de Maio também é um filme sobre sonhos e sobre como costurá-los à vida real.

No novo longa, prêmio de roteiro no Festival de Veneza, os protagonistas são estudantes parisienses envolvidos em manifestações políticas e protestos radicais. O diretor traça um retrato da geração pós-maio de 1968, que procura manter sua herança revolucionária e enquanto tenta encaixar esses ideais em sua vida cotidiana. O maior embate de Depois de Maio não é entre polícia e estudantes, mas entre ideia e práxis.

Assayas é bastante generoso em retratar a paixão dos personagens pelo que acreditam, seja no campo político, na liberdade amorosa ou na produção artítisca (“uma arte revolucionária não tem que ter uma sintaxe revolucionária?”). O desejo de transformação de cada um deles é genuíno – e o diretor entende que ele faz parte do movimento natural do homem. Negar o que veio antes é inerente ao jovem. Mas o cineasta não tem pudores em mostrar a crise de suas crenças, sem desmerecê-las.

A diferença entre o filme de Assayas e muitos outros que trabalham nesse campo é que ele não pende para a visão romântica que Bernardo Bertolucci impõe a Os Sonhadores, por exemplo, nem se interessa em cair no lugar comum de se criar um panfleto ideológico. O romantismo está naquele jovens, mas não na maneira com que o diretor os registra. O cineasta assume um papel de observador que não se envolve com o objeto do desejo de seus personagens, mas que, ao contrário, se mostra encantado em registrar este desejo. Assayas filma tanto os sonhos quanto as desilusões destes jovens com o mesmo amor pelo ser humano.

Depois de Maio EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Après Mai, Olivier Assayas, 2012]

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