Andrew Niccol. Este é o nome do homem. O cineasta-escritor é o responsável pelos roteiros do inteligente O Show de Truman e do curioso Gattaca, que também foi sua estréia como diretor. Isso aconteceu entre 97 e 98. De lá pra cá, não se teve notícia de Niccol, que volta agora ao cinema com este Simone. Pelo que se vê na tela, o desaparecimento do cineasta é um caso claro de abdução com extração de massa encefálica.
Simone conta a história de Victor Taransky, cineasta medíocre que vê na criação tecnológica de seu único e surtado fã, uma atriz digital (como se isso fosse novidade), a chance de fazer sucesso. E é o que ele consegue: rapidamente, a tal Simone vira mito. A brincadeira com os simulacros, cara aos trabalhos anteriores de Niccol, parece justa apesar do plot absurdo, mas o resultado é uma catástrofe magistral. Isso sobretudo porque, muito mais que Al Pacino, Andrew Niccol resolve intrepretar Taransky. Ele veste a máscara de diretor sem talento e seu desempenho é – impressionantemente – soberbo.
O filme parte de uma série de clichês. O personagem de Pacino sobrevive da boa vontade da ex-mulher, diretora de um estúdio, que não suporta a última burrada do rapaz e o manda pastar. A partir daí, o cineasta é apresentado a sua estrela digital. A construção do roteiro é repleta de cenas inacreditáveis. O clima de novela americana (ou mexicana, a mãe do novelão), extraído dos filmes dentro do filme, invade a trama. Absolutamente tudo na tela é tosco. Desde as falas, cheias de metonímias baratas e trocadilhos gastos (Simone, a virtual, canta You Make Me Feel Like a Natural Woman, sacou?) até o desenho das personagens. As cenas de Pruitt Taylor Vince no quarto do hotel e a da entrega do Oscar são os ápices.
Mas aí surge o lado sério. De repente, Pacino é mostrado como o homem só e sem opções. A moça virtual torna-se tudo o que ele tem. A trilhinha maniqueísta tenta ajudar a criar o clima dramático. No final, Andrew Niccol tem a brilhante idéia de vender seu filme como uma crítica à indústria cinematográfica, à criação de mitos e ao público. Enquanto aposta no trash, o filme é apenas ridículo, mas quando ele tenta convencer o espectador, Simone transforma-se num negócio absolutamente insuportável.
S1mOne
[S1mOne, Andrew Niccol, 2003]