Philomena

A vida de Philomena Lee é uma tragédia clássica, mas Stephen Frears resolveu transformá-la em mais um exemplar da eterna batalha entre o bem e o mal. De certo, o mal neste filme é um mal concreto, humano e possível, mas a maneira como o roteiro articula as descobertas da protagonista é tão maniqueísta, com revelações acontecendo numa escala crescente, que os méritos naturais desta história real se esvaem ao longo do filme.

Philomena tem um mérito na interpretação de Judi Dench, que finalmente deixa as mulheres fortes e ranzinzas de suas últimas indicações ao Oscar e entrega uma personagem diferente, delicada, quando não submissa, herança de sua história de vida num convento rígido. O ponto de partida do filme deixa um pouco a desejar porque o roteiro não parece criar o ambiente necessário para justificar o despertar do interesse em Philomena de ir em busca do filho perdido 50 anos depois.

Steve Coogan, coprotagonista e um dos autores do roteiro, condensou as várias viagens de Philomena à América numa única e longa viagem de (auto)descobrimento. A aventura tem direito a revelações que a própria protagonista faz sobre o filho, discussões de caráter religioso, necessárias, mas simplificadas, e momentos de descobertas tão calculados para que o filme ganhasse um clima de thriller dramático que, como nas melhores e piores histórias reais do cinema, esburacaram o roteiro.

Embora as manobras compliquem o resultado, Frears sabe conduzir o melodrama e Judi Dench está a seu serviço, aumentando o poder dramático de cada cena. Há momentos bem bonitos em Philomena. Pena que o filme se renda tanto a uma certa arquitetura da coopção, o que relativiza o poder da crítica que o filme faz à Igreja Católica, muito mais forte, por exemplo, em outro filme problemático, Em Nome de Deus, de Peter Mullan, que toca num tema semelhante. O longa de Frears é mais universal, mas sua vontade de agradar é seu maior defeito.

Philomena  EstrelinhaEstrelinha
[Philomena, Stephen Frears, 2013]

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