Os garotos que protagonizam A Alegria parecem ser alter egos dos diretores do filme, cineastas jovens que, numa definição apressada, se rebelaram em relação ao status quo do cinema brasileiro, cada vez mais industrial, cada vez menos autoral. No longa, os personagens, inquietos em sua fúria juvenil, resolvem se revoltar e atacar inimigos invisíveis, inimigos que nem eles mesmos sabem definir. E aí, mais uma vez, os personagens parecem refletir as intenções de seus criadores.
A ousadia sempre é bem-vinda, mas a realização nem sempre dá conta do projeto. Se existem algumas boas ideias no filme, elas estão escondidas – pra não dizer soterradas – nos escombros de um objetivo maior: particularizar a obra de tal maneira que ela seja uma espécie de símbolo de resistência. Mas, ao mesmo tempo em que o roteiro e a direção atacam o conformismo narrativo do cinema brasileiro atual, eles se acomodam sob a égide da experiência.
Muitas vezes, experiência pela experiência. E experiência reciclada. O que é “original” no filme parece nascer de um conjunto orgulhoso de referências que diminui o espaço para os diretores realmente criarem. Espaços, tempos, silêncios, mantras, ruídos parecem emular cinemas de transformação mais historicamente pertinentes, como de Rogério Sganzerla, ou mesmo experiências cinematográficas mais bem resolvidas, como a do tailandês Apichatpong Weerasethakul, citado pelo menos três vezes ao longo do filme.
A direção de atores morreu no Cinema Novo, o que é perigoso e cansativo. E que provoca um distanciamento que não é mais novidade. A Alegria entra em crise porque é um filme de ação com tempos mortos. E isso termina provocando não apenas estranhamento e reflexão, que talvez fossem objetivos, mas um paradoxo no próprio projeto que parece ter ficado na intenção. E ela era bem boa. Há coisas que são lindas quando ditas, outras que ficam muito bem no papel.
A Alegria
[A Alegria, Felipe Bragança e Marina Meliande, 2010]
Tenho de ver isto!