A Criada

A indefinição no tom e no alvo é o maior problema de A Criada, filme de Sebastian Silva, que chega ao circuito comercial brasileiro com quatro anos de atraso. O roteiro é escrito na base da comédia de absurdos, acompanhando o comportamento esquisito, quase psicótico, da protagonista, mas a intenção do diretor está bem longe da brincadeira surreal. O chileno parece se incumbir da proposta de transformar o longa numa espécie de reflexão sobre a condição das secretárias do lar, da relação entre empregadas e patrões, como em Doméstica, do brasileiro Gabriel Mascaro, mas não consegue fazer drama e humor dialogarem muito bem.

A atriz Catalina Saavedra, premiada em Sundance, é o maior trunfo do filme. Ela consegue emprestar contornos cada vez mais detalhados até humanizar a personagem, mesmo quando o roteiro cria armadilhas para transformar a protagonista em vilã, condená-la à loucura ou simplesmente entregá-la à caricatura. Sua interpretação é arriscada, opera no limite da sensibilidade, o que dá um fôlego maior ao filme. Raquel trabalha há vinte anos na casa de seus patrões, onde é tratada como um membro da família. Sem nunca ter tido direito a um vida realmente sua, ela extrapola os limites da relação com os patrões, repelindo interferências externas (outras empregadas) e criando papéis fictícios para os donos da casa, o que supre seus desejos e anseios.

A ideia parece melhor escrita do que é executada. Algumas cenas de comédia funcionam muito bem, sobretudo as que envolvem a peruana rival de Raquel ou a funcionária da mãe da patroa, mas quando o filme tenta falar sério parece não ter muita propriedade para isso e parte para a agressão. Os nus excessivos querem forçar a mudança de ares, mas na maioria das vezes o filme parece apenas brigar consigo mesmo e nunca realiza sua intenção maior de analisar o cotidiano de uma empregada doméstica.

A Criada EstrelinhaEstrelinha½
[La Nana, Sebastian Silva, 2009]

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