A Nossa Espera

A Nossa Espera EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
Nos Batailles, Guillaume Senez, 2018

Há filmes sobre eventos bem concretos e há filmes sobre as coisas invisíveis que nos cercam. Esses falam sobre nossas relações, sobre o que nos une, nos aproxima e nos afasta do outro. Preferem, em primeiro plano, mergulhar nos personagens, analisar suas escolhas, sonhos e frustrações. São mais sobre pessoas do que sobre coisas. A Nossa Espera faz parte desta segunda leva: é um filme sobre mistério nosso do dia-a-dia, sobre o que não se explica.

Como manda qualquer narrativa com base clássica, existe um acontecimento que tira os personagens de suas posições cotidianas e dá o start na trama, mas, ao contrário do que vemos em filmes mais convencionais, o interesse do belga Guillaume Senez não está em tentar entender motivos ou buscar conciliações, o diretor se dedica a acompanhar um protagonista que precisa lidar com o que restou para ele. “Agora é com você”, versão existencialista-familiar.

O doloroso processo por que passa o personagem de Romain Duris, impecável como o personagem que fica, vai muito além de decidir se abdica de seus projetos pessoais para assumir novas (velhas) responsabilidades. Ele precisa olhar para si mesmo e para as escolhas que tomou, as prioridades que elegeu, a vida que construiu para si mesmo. Não é um caminho fácil para ele e não é uma aposta óbvia para quem conta esta história porque A Nossa Espera não se apoia em catarases, mas no intervalo entre os eventos, aquilo que se chama de vida real.

À personagem que parte, o filme não reserva nenhum julgamento, muito menos uma condenação. Não se debate culpa(s), pelo contrário. O cineasta parece entender que as coisas têm seu tempo e que o que guardamos dentro de nós pode não ser muito fácil de explicar, mas que é nosso dever defender esses momentos de dúvida.

O roteiro deste melodrama intenso, mas delicado, filiado a um cinema humanista, é de Senez e de Raphaëlle Desplechin, irmã de Arnaud Desplechin, diretor de Reis e Rainha, outro filme demasiado humano. Mas aqui os debates são menos existencialistas e mais afetados pelo particular, pelo muito particular, pelo muito pessoal, aqueles questionamentos que se faz enquanto se faz o almoço ou se coloca as crianças para dormir.

Se existe um grande elemento renovador neste filme é o fato de que, apesar de suas discussões profundas e de sua falta de respostas para perguntas que sequer chegam a ser feitas, A Nossa Espera não é um filme contaminado pelo fatalismo. Seu desfecho, muito longe do óbvio, olha pro mundo com carinho, como se dissesse que, por mais complexas que sejam, nossa batalhas precisam ser travadas no campo da esperança.

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