O filme português do francês Eugène Green se auto-ironiza o tempo inteiro. A história da atriz parisiense que chega a Lisboa para fazer um filme cabeça (com dois atores, sem diálogos, “aborrecido?”, pergunta a cabeleireira) começa com esse tom já no diálogo entre a protogonista e o recepcionista do hotel. Hilário. Esse sarcasmo cria um contraponto interessantíssimo ao formato adotado por Green: planos fixos, câmera aberta, interpretações deliberadamente artificiais (aos atores, sobretudo a Leonor Baldaque, parece ter sido pedido para não fazer expressões faciais, o que inclui piscar). O encontro de tons dá a A Religiosa Portuguesa um caráter único de filme sério que ri de si mesmo sem se desmerecer. O diretor ainda encontra espaço para defender o amor, discutir a religiosidade e dizer que, mesmo sendo um intelectual, acredita no acaso e no destino.
A Religiosa Portuguesa
[A Religiosa Portuguesa, Eugène Green, 2009]