Se Ang Lee pode ser acusado de alguma coisa é de ser um cineasta universal. Trouxe atores de sua Taiwan natal para os Estados Unidos não para fazer filmes sobre a adaptação de estrangeiros a um novo país, mas para protagonizar dramas pessoais e familiares. Adaptou Jane Austen, fez um western e levou a primeira versão do Hulk aos cinemas. Mas nunca abandonou suas origens, tanto num longa de espionagem quanto numa aventura de artes marciais.
Curiosamente, o filme mais universal de Lee é o mais simples. O Segredo de Brokeback Mountain é uma clássica história de amor probido, sem qualquer afetação, concessão, adaptação, filmada como uma melodia interrompida, muitas vezes seca, áspera. O que diferencia o filme é que a história de amor que ele nos apresenta é a de dois homens. Nada mais universal.
Aconteceu em Woodstock, o novo longa de Ang Lee, guarda muitas das características de seu cinema. É imenso sem fazer alarde. O diretor apresenta os momentos imediatamentes anteriores ao maior evento da história da contracultura, o Festival de Woodstock, como uma outra época qualquer. O cineasta recria com uma discrição improvável e um respeito na medida certa um período histórico fadado a ser retratado com festa, culto, reverência.
Para protagonizar seu filme, Lee escolheu um ator de TV, com um currículo mínimo no cinema. Demetri Martin materializa a maneira como o cineasta lida com o tema – interpreta com leveza o jovem que sacrifica sua vida na metrópole para ajudar aos pais a salvar o negócio da família no interior. Martin é a alma do filme. Um ator menos esforçado poderia facilmente passar desapercebido ou carregar nas tintas do personagem. Mas ele empresta sua fluidez para Aconteceu em Woodstock.
O elenco de apoio é outro grande acerto de Lee. O casal formado por Henry Goodman e Imelda Staunton – ele, admirável; ela, escandalosa – oferece um contraponto ora cômico, ora dramático para o protagonista a cada cena em que aparecem. Os dois personagens são muito bem eleborados pelo roteiro de James Schamus, que sabe equilibrar suas simpatia e verossimilhança. Emile Hirsch, que parecia ser um coadjuvante de luxo, se revela numa cena especial, e o grande Liev Schreiber confere a sua Vilma múltiplas dimensões.
Mas o elenco ou a trilha de Danny Elfman ou a montagem, herdada de Hulk, são apenas suportes para que Ang Lee nos ofereça mais duas horas de sua delicadeza habitual. O cineasta trata sua história com tanto carinho que mesmo quando o filme segue caminhos mais óbvios, como a conversão do protagonista ao espírito do evento, a honestidade com que o diretor lida com seu material nunca fica em segundo plano. E, como grande cineasta que é, Ang Lee nos presenteia com um golpe final. A bela – e simples – cena em que pai e filho acertam as contas.
Aconteceu em Woodstock ½
[Taking Woodstock, Ang Lee, 2009]
manda o filme para mim se tiver?
alguem aqui viaja em mestrado no woodstook?alem dos baseados?
É um bom filme, assisti sem esperar muita coisa, mas foi super válido!
Exelente parecia que eu estava em cena. Meu Deus quem vivenciou este momento pode-se dizer que sua vida valeu a pena.
Os atores foram perfeitos.Como foi maravilhoso ter assistido a esse filme!
Chico, que bom que gostou do filme. Tenho expectativa de que seja o melhor Ang Lee. Você é a segunda pessoa que fala bem da Imelda Staunton, que parece ótima.
Pena que o filme tem ido mal nas bilheterias lá fora, mas espero que isso não seja impecilho para que estreie no Brasil.
Mas se vier para o Festival Internacional de Brasília, melhor ainda, vejo antes!
Abraço!
Alexandre, pra mim ele nunca perdeu a forma. E “Lanternas Vermelhas” até pode ser o melhor filme, mas do Zhang Yimou, não do Ang Lee.
Ang Lee de volta a forma ?
Pessoalmente não gostei de Brockeback e ainda acho Lanternas Vermelhas seu melhor filme.
Quero muito ver esse filme.
Não assisti ainda Lust, Caution, mas é algo que pretendo fazer em breve.
E o elenco de Taking Woodstock é magistral.