O intervalo entre os lançamentos de Amor Pleno e A Árvore da Vida, o filme anterior de Terrence Malick, foi de um ano e quatro meses. É o menor tempo de espera por um longa do cineasta, que dirigiu apenas seis filmes nos últimos 40 anos. Coincidentemente ou não, Amor Pleno é o trabalho mais irregular de Malick, um filme que parece não conseguir sair ileso do conflito entre o micro e macro, algo que permeia a filmografia do diretor e que neste longa se reflete, principalmente, em como as imagens grandiosas contrastam com a história intimista que se vê na tela. A
O filme parte da relação entre os personagens de Ben Affleck e Olga Kurylenko, do encantamento à desilusão, para que o diretor lance uma espécie de reflexão filosófica sobre o amor. A estratégia é a mesma que Malick utilizou em seu filme anterior, em que questiona a essência do ser humano a partir da história de uma família. Mas onde A Árvore da Vida parecia genuíno, na busca por respostas, Amor Pleno parece apenas confuso. Confusão que talvez se explique pelo complicado processo de montagem pelo qual passou o filme, assinado por cinco editores, e que eliminou completamente as personagens vividas por Rachel Weisz, Jessica Chastain, Michael Sheen, Amanda Peet e Barry Pepper.
As baixas podem ajudar a explicar porque o filme não representa o que deveria representar. Caso fosse um mosaico, Amor Pleno poderia ter mais poder simbólico, mas ao eleger o romance do casal como linha central do trabalho, Malick deixou o longa vulnerável e parece compensar a lacuna com um excesso de plástica. Se nos filmes anteriores, muitos diálogos eram substituídos por voices over, fundamentais para desenhar o plano existencialista em que Malick opera, aqui a fórmula se repete com efeitos reversos: os personagens parecem estar fazendo discursos para si mesmos, como se passassem à margem da vida real. Ben Affleck, por exemplo, não fala uma frase inteira ao longo do filme.
Há ainda uma estranha escolha em relação aos belos planos capturados por Emmanuel Luzbecki. Embora tenham sido planejados como suporte para a reflexão que o filme lança, em sua grande maioria, eles são desperdiçados por uma montagem frenética que os sobrepõem em intervalos raramente maiores do que dois segundos. A sensação é de que havia uma ordem para se utilizar os frames mais bonitos que se poderia ter aos montes para dar fluxo ao pensamento dos personagens, mas o efeito é exatamente o contrário: algumas vezes, parece que estamos diante de um vídeo de auto-ajuda com imagens belíssimas, trilha serena, montagem alucinante e alguma mensagem espiritual.
Por falar em espiritual, o personagem de Javier Bardem, o padre em crise, que fazia muito sentido na proposta inicial, mais ampla, mas parece um apêndice desnecessário na forma final do filme, que nunca encontra o casamento correto com o que seria a história principal. A religiosidade fica cercando o longa, mas não encontra espaço para se encaixar. Rachel McAdams também escapou do passaralho do elenco, mas teve uma participação resumida a não mais que 15 minutos em cena, o que deixou sua personagem igualmente dispensável. Embora Olga Kurylenko esteja muito bem – e provavelmente nunca tenha sido tão belamente filmada -, a atriz não consegue segurar o filme.
A sensação geral é que Amor Pleno poderia ser um filme muito maior, embora querer ser grande seja exatamente seu maior problema.
Amor Pleno
[To the Wonder, Terrence Malick, 2012]
Concordo com vc. É incrivel minha relação com Mallick pois o 1º filme que vi foi “Alem da linha Vermelha” onde o diretor seguem uma história e entre ela permeia o filme com seus devaneios espirituais. Depois fui conhecer suas outras obras e não me adaptei ao estilo meta fisico dos últimos trabalhos, acho presunçoso e megalomaníaco e neste caso vejo os atores como bonecos para completar o cenário onírico. O próximo passo é tirar os diálogos e filmar apenas imagens (belissímas não há como negar)…