Durante boa parte da exibição de Amy, fica a dúvida de se estamos diante de um trabalho riquíssimo em detalhes sobre um dos maiores nomes da música nos últimos anos ou se o filme é uma versão potencializada de uma cobertura de fofocas sobre uma celebridade polêmica.
Asif Kapadia, o mesmo diretor de Senna, realiza um poderoso inside job com esse documentário, coletando depoimentos de amigos, parentes e pessoas que trabalharam diretamente com a cantora. Todos com um grau de intimidade que nos aproxima da personagem. Todas as entrevistas, sem exceção (a não ser quando ela não foi feita diretamente para o filme) são com voice over, sobrepostas por imagens igualmente íntimas e pessoais.
Um trabalho de pesquisa e coleta tão impressionante quanto o material coletado em si (vídeos que mostram Amy Winehouse em casa, no hotel em que se internou para um rehab, entre amigos, entre parentes). Por outro lado, Kapadia abusa de uma postura invasiva, quase emulando o arsenal de vídeos e fotos de paparazzi, que tenta, na mesma medida, criticar. O diretor também reproduz comentários de jornalistas e apresentadores de TV, que terminam, para o bem e para o mal, emprestando para seu filme um juízo de valor sobre Amy Winehouse.
A conclusão é que Amy, que provavelmente é o trabalho mais rico de imagens exclusivas e depoimentos sobre a cantora que se poderia fazer, também captura a dimensão que sua estrela alcançou, um tamanho enorme para que a cantora e o filme pudessem escapar de uma mídia interessada em devassar sua vida. Por mais contraditório que criticar esse excesso possa parecer quando se reprisa esse padrão. “Amy” talvez não revele o ser humano, mas, com certeza, dá uma boa ideia sobre o tamanho do monstro.
Amy ★★★
[Amy, Asif Kapadia, 2015]