Como retorcer os clichês dos filmes teen e criar o pensamento crítico a partir de uma reflexão sobre bullying no ambiente escolar? Como despertar uma discussão honesta sobre algo tão banal quanto “fazer o que é certo”? Como fazer tudo isso tudo sem abandonar as regras, a narrativa e a dramaturgia geralmente simples de filmes para adolescentes? Em seu quarto longa, Ry Russo-Young responde todas estas perguntas com duas palavras: paradoxo temporal. Ela adapta um romance adolescente que tem como premissa uma adolescente que fica presa em seu último dia de vida e passa a questionar seu comportamento, suas amizades, sua relação com quem está em torno dela. Mas se o material original vai pouco além do “filme de mensagem”, cabe à cineasta dar texturas para as dúvidas e os dilemas de sua personagem. Numa espécie de eco de Feitiço do Tempo para a geração high school, Russo-Young desenha um encontro de gêneros que tira os lugares comuns dos lugares comuns. Sam é superexposta duplamente, tanto a sua persona pública quanto a sua mortalidade. O movimento circular de seu(s) dia(s) é tão desgastado que seu próprio mecanismo fica exposto. É aí que a cineasta parece acertar em cheio: “a mensagem” que deveria ser óbvia surge a partir da decantação do status quo. É quando a diretora ataca o clássico de dentro do próprio clássico.
Antes Que Eu Vá
[Before I Fall, Ry Russo-Young, 2017]