Sam Raimi renasceu dos infernos. Depois de sete anos completamente dedicado aos filmes do Homem-Aranha, o cineasta-mor do terror oitentista voltou ao reino das trevas com um dos trabalhos mais deliciosos (e assustadores) dos últimos tempos. Arrasta-me para o Inferno tem um grande diferencial em relação a seus primeiros filmes. Desde que terminou a trilogia Evil Dead, Raimi se transformou num grande diretor, virou um exemplar administrador de cenas e de interpretações. Então, além da criatividade e da brincadeira, maiores armas de Raimi, seu novo filme tem substância.
Isso é fundamental para o resultado final de Arrasta-me para o Inferno. O filme recicla (e manipula) zilhões de clichês do cinema de terror, mas tudo é tão bem amarrado, tem uma embalagem tão perfeita, que nada parece velho e, sim, nostálgico. Lorna Raver, excelente em sua caracterização da velha cigana, mesmo com sua participação reduzida, é o grande nome do filme. Suas cenas ganham atenção especial de Raimi, que cuida de cada detalhe, como a dentadura na primeira aparição da atriz no filme, o lenço amaldiçoado e até a cena do caixão.
Raimi é o rei do susto. E, convenhamos, isso é básico para esse gênero. Há pelo menos uma meia dúzia de grandes sustos no longa. Um deles me fez pular na cadeira. Tudo funciona até mesmo quando o perigo é insinuado, como na cena do vendaval que invade a casa. Ao mesmo tempo, ele não abre mão de soluções trash e não poupa a pobre Allison Lohman da sessão melequeira. Esse resgate das raízes, a maneira como Raimi converte os lugares comuns e o final truqueiro – e saboroso – que reproduz a lógica dos filmes de terror fazem desta uma das melhores maldições do ano.
Arrasta-me para o Inferno
[Drag Me To Hell, Sam Raimi, 2009]