ENCONTROS E DESENCONTROS

O que será, que será, que filmam os cineastas mais delirantes?

Benjamim é um filme como há muito eu não via no cinema brasileiro. Um filme muito mal escrito. A história, baseada no livro de Chico Buarque, nas telas é um mosaico de cenas que não se explicam direito e que, pior, são muito mal desenvolvidas. A história do encontro de Benjamim, um Paulo José muitas vezes perdido com as indefinições de seu personagem, com Ariella é uma história mal contada. Não dá para determinar bem que é o culpado. Não li o livro, assim como nenhum outro de Chico Buarque, que considero o melhor letrista da música brasileira. Não sei se foi ele quem não soube amarrar sua narrativa desordenada ou se ela foi mal transposta pelos três roteiristas (entre eles o geralmente eficiente Jorge Furtado). Muito menos vi o único filme anterior de Monique Gardenberg (Jenipapo, 96) para poder comparar seu desempenho de criação. A ignorância referencial no entanto me entrega Benjamim completamente nu e tudo o que eu consigo enxergar no filme é um propósito de fazer diferente sem a capacidade de fazer diferente.

A trama é um drama e depois se revela algo entre o policial e o suspense, mas isso também não importa. Os personagens são mal definidos, suas motivações, confusas (o que não deve ser encarado como um problema, mas que termina sendo) e, no final, banais (não porque eles não tivessem grandes motivações ou que não ter grandes motivações seja necessariamente ruim, mas porque elas não parecem vir a cristalizar algo que realmente justifique a existência da trama). Benjamim começa a perseguir, no bom sentido, uma garota que parece muito com uma mulher por quem ele foi apaixonado trinta anos antes. A relação entre as duas se revela aos poucos, numa narrativa repleta de flashbacks que não chega a incomodar, mas que é formada por cenas que não fluem, onde a ação não vira algo crível, possível, plausível porque não se cria as situações para tanto (ou tão pouco?). De nada adiantam os filtros e a trilha bem cuidada. O fim chega, com mais vontade de fazer barulho que qualquer coisa, e você não sabe bem porque estava ali se não havia uma história para ser contada nem uma experiência sensorial para ser vivenciada. Benjamim não tem motivo.

Mas há que se fazer justiça: Cléo Pires é linda. Absurdamente linda. E está bem melhor do que poderia se esperar. Para ela, a estrela solitária deste post.

BENJAMIM
Benjamin, Brasil, 2004.

Direção: Monique Gardenberg.

Roteiro: Jorge Furtado, Glênio Póvoas e Monique Gardenberg, com base no livro de Chico Buarque.

Elenco: Paulo José, Cléo Pires, Danton Mello, Chico Diaz, Rodolfo Bottino, Nelson Xavier, Guilherme Leme, Micaela Góes, Mauro Mendonça, Ernesto Piccolo, Miguel Lunardi, Pablo Padilha, Dada Maia, Ana Kutner, Ivone Hoffman, Wando, Zeca Pagodinho.

Fotografia: Marcelo Durst. Montagem: João Paulo Carvalho. Direção de Arte: Daniel Flaksman. Figurinos: Marcelo Pies. Produção: Paula Lavigne e Augusto Casé.

nas picapes:

Buddy Holly, Weezer

Hash Pipe, Weezer.

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