Dez anos depois de tê-lo assistido pela primeira vez, eu ainda não tenho coragem de rever Amores Brutos. O primeiro filme de Alejandro Gonzalez Iñarritu foi um dos meus favoritos em 2001, mas desconfio que hoje minhas ideias sobre bom cinema mudaram um tanto. O mexicano, nos dois longas que seguiram sua estreia, se debruçou sobre uma fórmula, que, resumindo bem, mostra histórias paralelas que se entrecruzam ou na forma de revelação ou na de coincidência. É um artifício que, à primeira vista, parece engenhoso, mas que prefere celebrar os enlaces das tramas, ou seja celebra a forma “diferente” que os autores encontraram para contar a história do que os personagens em si. Em Babel, isso é radicalizado a ponto do filme parecer uma auto-felação.
Biutiful, o novo filme de Iñarritu, marca uma virada no cinema do homem. O filme, a história de um homem que se vira como pode – com truques e na ilegalidade – para sustentar os dois filhos, marca o fim do romance com o roteirista Guillermo Arriaga, que escreveu seus três filmes anteriores. Arriaga que partiu numa espécie de carreira solo com filmes como Vidas que se Cruzam, parecia ser o responsável (volta pro título que eu acabei de citar) pela tal estrutura que enlaça histórias e se vende exclusivamente por como isso é “genial”. O filme pós-casamento de Iñarritu aposta numa trama só, em linha reta, com um protagonista. Quem aparece em seu caminho serve exclusivamente como coadjuvante da história desse personagem.
Confesso que o fato do diretor renegar a fórmula que o consagrou me empolgou bastante num primeiro momento. Sem a preocupação em desenvolver mais de uma trama, o roteiro dá espaço suficiente para que Javier Bardem componha um personagem complexo, carregado de dor, culpa e uma religiosidade meio fantasmagórica, ao mesmo tempo em que acompanha seu dia-a-dia num esquema documental onde cenas mais longas e com pouca ação ajudam a desenhar o cenário. Maricel Álvarez, com seu rosto almodovariano, interpreta a ex-mulher de Bardem, e é, desde já, minha coadjuvante favorita do ano. Acertadíssima também é a composição visual do filme. O fotógrafo Rodrigo Prieto presta uma homenagem a Barcelona, capturando a cidade da forma mais bonita e assustadora possível. O personagem parece que vai ser devorado por ela em alguns momentos.
No entanto, ao contrário da sucessão de acasos que trunca Babel, um pecado mortal no novo filme é sua – longa – duração. São duas horas e meia que esticam a trama à exaustão e abrem caminho para que Iñarritu revisite sua sina de observador crítico da crueldade da alma humana, no que isso tem de pior. Se Biutiful não se escora nas coincidências dos longas anteriores do mexicano, o diretor encontra uma maneira pouquíssimo sutil de mostrar suas anotações sobre os mecanismos “vis” de nossa sociedade que engole o homem comum. Aqui, o cineasta assume uma postura incômoda de guardião da moralidade e parece mesmo querer parecer importante. Fosse apenas isso, o filme ainda teria muito a oferecer, mas Iñarritu ainda resolve transformar o protagonista num herói anônimo e encerra o longa da maneira mais ordinária possível, remetendo a soluções fáceis com as de seus filmes anteriores. Terá sido coincidência?
Biutiful
[Biutiful, Alejandro Gonzalez Iñarritu, 2010]
Keep working ,splendid job!
Não me interesso pelos filmes de Iñarritu, Chico. Seus trabalhos são metódicos, e não estilosos – no que isso tem de pior, como dissestes.
Qual foi seu problema com o filme, Leo? Eu realmente acho que posso odiar numa revisão, mas não quero me contaminar com essa ideia.
Em 2001, já achei Amores Brutos uma MERDA. Então né…