Quando Bobby estreou no Festival de Toronto do ano passado, começou a aparecer em praticamente todas as listas de apostas para o Oscar. Personagem edificante (o futuro presidente que iria mudar os EUA), tema sério, nostálgico, com um elenco cheio de astros e estrelas e um diretor-ator, condição que a Academia adora consagrar. Apesar disso tudo, no dia do anúncio das indicações, o filme não conseguiu nenhuma, nem mesmo a ‘barbada’ que parecia ser a música composta por Bryan Adams. Foi esquecido mesmo.
Hoje, quando eu sentei para escrever este texto, finalmente descobri o porquê. Assisti ao filme na noite de sábado passado, numa pré-estréia. E me surpreendi porque o material era bem melhor do que eu tinha imaginado, mas mesmo assim decidi somente escrever sobre ele quando entrasse em circuito. O resultado é que eu quase esqueci. Os méritos de Bobby existem, mas eles não são muito resistentes ao tempo.
O primeiro deles é a falta de pretensão. Apesar da trabalhar desavergonhadamente com a reverência histórica – Robert Kennedy era um homem perfeito, segundo Emilio Estevez -, a inserção de material documental é usada com equilíbrio e o filme nunca assume um tom definitivo, é muito mais uma homenagem. Essa condição fica ainda mais evidente quando se percebe que o longa conta a história de mais de vinte personagens… fictícios.
Então, por mais que aborde (com inteligência, como a Guerra do Vietnã – Lindsay Lohan e Elijah Wood inspirados) assuntos mais sérios, o trabalho de Estevez se apóia numa fórmula de ‘filme de hotel’ – acabei de inventar… – que o deixa ainda mais nostálgico, muito mais ‘cotidiano’ e com cara de reunião de amigos. O que é mais interessante é que, apesar do elenco elástico, o roteiro consegue dar harmonia à distribuição de tempo em tela a cada um dos personagens.
Em contrapartida, quase todos os atores conseguem deixá-los suficientemente interessantes para que queiramos descobrir ‘o que acontece no final’ com cada um deles. Há apenas dois que não funcionam: a jornalista tcheca (que parece aquelas atrizes bronzeadas e com caras de burras de comédias idiotas) e o hippie drogadinho de Ashton Kutcher, que sofre com o ator ruim.
De resto, todo mundo tem algum mérito, inclusive Demi Moore, vivendo uma cantora pé-de-cana, que, numa das melhores cenas do filme, tem um diálogo com Sharon Stone, em frente ao espelho, sobre o envelhecer de uma estrela. Melhores estão o hypado Shia LaBeouf e Brian Geraghty, que passam o filme sobre o efeito de alucinógenos, e Freddy Rodríguez, ótimo como o garçom chicano boa praça. Pena que tanta simpatia não faça a empolgação de Bobby durar muito. Mas será que a idéia não era essa?
Bobby ½
[Bobby, Emilio Estevez, 2006]
Vi ontem e achei melhor do que esperava. O problema é trater Kennedy como se fosse um deus, um messias, a última esperença do país, e Estevez mantém essa nota o filme inteiro, o que acaba cansando um pouco.
Gostei dos personagens do LaBeouf e Gerarghty, bastante divertidos, mas o melhor do elenco é o Freddy Rodriguez, muito bom mesmo.
Fiquei me perguntando se Anthony Hopkins finalmente conseguiu se livrar de Hannibal. Consegue?
Não diria que ela rouba a cena aqui não, mas está bem. Já em “Alpha Dog”, eu adoro a cena da entrevista dela. Acho uma performance genial.
Muita gente falou mal, alguns poucos falaram bem. Estou com uma certa curiosidade morbida pra ver esse filme Chico, talvez o faça esse fim de semana.
Aliás, Sharon Stone está se especializando em roubar as cenas hein? Ela estava fantástica em Alpha Dog e agora aqui, pelo o que tenho lido, também não fez feio.