A fórmula de Camille Outra Vez é a mesma dos filmes que transportam seus personagens no tempo em Hollywood, em especial Peggy Sue – Seu Passado à Espera, de Francis Ford Coppola, onde a protagonista revisita sua adolescência, mas a diretora Noémie Lvovsky, que também escreve e estrela a comédia dramática, acrescenta algum fôlego para o formato. Esse tipo de viagem temporal no cinema americano geralmente leva a um processo de autodescoberta, mas aqui, embora aconteça por acaso, o retorno da personagem a sua juventude é direcionado desde o começo para que ela consiga transformar, em diversos níveis, sua história.
Camille, uma atriz quarentona que não deu muito certo, volta ao ano de 1985, um ano-marco para ela, época em que viveu três situações que determinaram quem ela é hoje. Foi neste ano que ela perdeu sua mãe, conheceu seu futuro marido e ficou grávida dele e quando, pela primeira vez, subiu num palco. Camille volta a sua origem. É lá que ela descobre que ganhou outra oportunidade para dar novos rumos para sua vida que não saiu muito da maneira que ela gostaria. Lvovsky embala essa viagem de reconstrução com um texto leve e algumas ideias divertidas.
Camille volta aos 16 anos no corpo da Camille de mais de 40, mas ninguém ao redor dela percebe a mudança. A diretora usa esse estranhamento em favor do humor, se vestindo como uma adolescente dos anos 80, aterrissando no meio de uma high school, descascando a fábula. O caráter mágico da passagem no tempo só é citado explicitamente nas duas cenas em que Jean-Pierre Léaud faz uma participação especial ou na conversa com o professor. Esse quê lúdico apenas serve de ponte para que a protagonista possa procurar sua reinvenção, seja mudando fatos ou modificando a si mesma. É entre a jornada pessoal de uma mulher em busca de sua felicidade e a brincadeira com um gênero de cinema despretensioso que Camille Outra Vez encontra seu diferencial.
Camille Outra Vez
[Camille Redouble, Noémie Lvovsky, 2012]