O grande cinema brasileiro nos últimos tempos é aquele cuja narrativa ousada vira plataforma para o discurso político de seus autores. A ousadia na linguagem parecia ser o principal caminho para a revolução. Fellipe Barbosa, em sua estreia num longa-metragem de ficção, encontrou uma forma mais simples de fazer seu comentário sobre a situação econômica brasileira, transformando experiências reais vividas por ele mesmo num filme irônico e de discurso direto sobre a crise da classe média do país.
Filmou no bairro onde cresceu e na escola em que estudou – e utilizou no elenco pessoas que conhecem de perto a realidade que Casa Grande apresenta. O título, além de trazer o principal cenário do filme para a superfície, faz uma referência direta ao clássico da literatura brasileira Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Thales Cavalcanti interpreta o adolescente coxinha que estuda num colégio tradicional e se apaixona pela aluna de uma escola pública enquanto seu pai (Marcello Novaes, usando sua caricatura a favor de sua personagem) vive uma derrocada financeira.
Sem grandes arquiteturas de roteiro, Barbosa monta um mosaico que engloba a família, os colegas e os empregados da casa do protagonista. Os diálogos irônicos devassam os mínimos detalhes em relação a cada situação e a cada personagem. Todos, por sinal, são tratados com extremo carinho pelo diretor, como se ele buscasse entender suas motivações, mas se privar deixar de questioná-los.
A luta de classes ganha um exame em seus mínimos detalhes – e faz isso sem qualquer afetação. Poucas vezes um filme brasileiro tratou tão bem e tão amplamente de um tema tão complexo, com tantos braços e pernas e tentáculos. E o melhor: com um humor inteligente que não se nivela com a comédia rasa brasileira produzida a quilo por aí e que também não ameniza as coisas para nenhum lado. É possível fazer um cinema brasileiro popular e contestador, prova Fellipe Barbosa.
Casa Grande
[Casa Grande, Fellipe Barbosa, 2014]
O filme Casa Grande e de muita sensibilidade e revela um grande talento: Felipe Barbosa. O Brasil precisa aprender a valorizar o que e nosso.
É difícil alguns entenderem que cinema não é só pipoca, explosões, carrões fazendo pegas e super-heróis. Não é só a bilheteria que manda, principalmente em projetos subsidiados pelo governo, que tem com objetivo estimular os artistas brasileiros que buscam fazer uma cinema mais autoral, cujo a angariação de fundos é muito mais difícil que uma obra mais “popular”. Não estou querendo julgar, o que é melhor ou pior. O cinema realmente é um grande entretenimento, mas o lado mais “artístico” deve sempre ser levado em conta independente da bilheteria ou da audiência.
Felipe Barbosa faz um filme chato que só a crítica gosta. Viva a verba da Ancine, esse dinossauro que só faz filmes para críticos, mostras e festivais. Dinheiro vem fácil, basta ter o OK da Ancine e as empresas que dão lucro (estatais e outras privada controladas por fundos de pensão) abrem felizes seus recursos para financiar filmes que o público nem vê
“Faz filme chato que só a crítica gosta” é um argumento bem pálido.
Chato é subjetivo. A parte do “que só a crítica gosta” poderia ser embasada por um eventual baixo faturamento em bilheteria (não tenho dados sobre o assunto).
De qualquer forma esse tipo de financiamento no qual as pessoas que mandam na Ancine decidem o que fazer com o dinheiro público (da renuncia fiscal) favorece a produção de filmes que não estão alinhados com o gosto do público.
Jack, melhor assim, não? A Ancine não deveria ter que bancar projetos como os de comédias e biografias da Globo Filmes, né? Eles t6em bem mais chance de ganhar dinheiro (antes e nas bilheterias). O que eu acho que os órgãos que regulam o audiovisual deveriam é estimular diretores novos, projetos experimentais, temas ousados e controversos, exercícios de linguagem. Cinema não é só pipoca.