Charles Bronson

Nem John Wayne, nem Clint Eastwood, o maior macho do cinema americano se chamou Charles Bronson. Aliás, Charles Dennis Buchinsky. Que o diga minha saudosa tia Leninha, que foi sua maior fã viva, e que, diante de qualquer filme do ator, sempre repetia o mantra: “que coroa charmoso”. Apesar dos olhos verdes, Bronson não era exatamente um homem bonito. Nem exatamente, nem mais ou menos, mas era a essência do H maiúsculo no cinema: um cara comum, gente como a gente, que partia para cima de quem quer que fosse, ainda que os motivos não fossem tão nobres como uma vingança.

Desejo de Matar, de Michael Winner, não é seu melhor filme, mas é seu melhor exemplo. O ano era 1974 e ele interpretava um pai de família, que depois de ter a mulher violentada e morta por um grupo de agressores se transforma num vigilante. O filme fez tanto sucesso que gerou não uma, mas quatro sequências, lançadas num período de vinte anos. Bronson, que no momento do primeiro longa já tinha quase 25 anos de carreira, se transformou num astro do cinema policial.

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Mas o descendente de lituanos tinha um rosto de multidão: foi índio, pistoleiro, prisioneiro de guerra, soldado, lutador de rua. Seu personagem mais marcante, ao menos para mim, é “Harmonica”, o lobo solitário de Era Uma Vez no Oeste, do gigante Sergio Leone, que sempre aparecia em cena tocando sua gaita. Ao lado de Jason Robards, Claudia Cardinale e Henry Fonda, todos excelentes, Bronson achava seu espaço na imensidão daquelas imagens. Fez uma, duas, umas dez das cenas mais importantes de sua carreira somente ali.

Sua obra parecia menor diante de tantos atores mais talentosos, mas o misterioso homem dos olhos verdes sempre que podia aparecia em filmes que marcavam época. Seja na Segunda Guerra Mundial de Fugindo do Inferno, de John Sturges, e Os Doze Condenados, de Robert Aldrich; seja na Grande Depressão de O Lutador de Rua, de Walter Hill. Todos filmes de macho, dirigidos por diretores machos. Seu último longa foi justamente o último Desejo de Matar, um filme ruim, mas que encerrou a carreira de Bronson num universo que ele construiu para si mesmo.

Há dez anos, Charles Bronson morria. Há dez anos, o cinema ficava menos macho.

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124 comentários sobre “Charles Bronson: há dez anos, o cinema ficava menos macho”

  1. Em 61 fez Clamor do Sexo, com Natalie Wood e Warren Beat e já chamou atenção.Conseguiu firmar-se sem sair do cinema estadunidense como precisou fazer Antony Quim, outro homem fora dos padrões de beleza de Hollywood. É insubstituível.

  2. Verdade, essa cena marcou mesmo… mas eu gosto daquela em que a bazuca que ele encomendou chega e o cara pergunta "você vai usar isso?" e ele responde "só se eu conseguir juntar muitos deles num lugar só" ou algo assim.

  3. Bronson, Eastwood em Dirt Harry, Willis em duro de matar, representam o ideal americano do homem só que ao resolver problemas próprios resolve causas coletivas como injustiça, corrupção, etc. Na literatura temos Philip Marlove de Raymond Chandler como grande exemplo.

  4. Era Uma Vez No Oeste….filme para ver e rever….Tem de tudo, desde pequenos detalhes do som, de imagens inesquecíveis (fotograficamente falando) e, sobretudo, de cenas com interpretações fantásticas de Bronson e Cia, que fazem você até rever valores da vida….quem não assistiu deve assistir, mas com muita calma…vão adorar o filme.

  5. Cena clássica de Desejo de Matar é aquela em que ele vai comprar um sorvete em um bairro perigoso, levando uma câmera… "este é um país livre".

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