O primeiro filme de Fanny Ardant como cineasta mostra que a musa de François Truffaut ainda tem muito o que aprender. Ousada, ela foi: resolveu levar para o cinema a história de duas famílias vizinhas que se odeiam na Romênia, material original de Ismail Kadaré, Eschyle ou le Grand Perdant. Não é à tôa que Cinzas e Sangue lembra, aqui e ali, Abril Despedaçado, de Walter Salles, outra obra baseada no escritor, outro filme em que o diretor não acerta o tom e não dá relevo aos personagens a ponto de seu comportamento violento parecer, como todos querem, herança de família. O filme acompanha a volta de uma viúva romena e seus filhos, que viveram dez anos na França, a seu país de origem por causa de um convite de casamento. A chegada do grupo acirra antigas rivalidades e estabelecem um clima de terror na fazenda em que a história se passa. A proposta é interessante, mas não se cumpre. Ardant cria alguns momentos inteligentes visualmente, mas eles duram uma cena – às vezes, uma imagem. No resto, o filme parece querer justificar sua fragilidade com o excesso: tudo é pesado, escuro e sem concessões. E a protagonista Ronit Elkabetz passa o filme inteiro rosnando, maquiada como a princesa das trevas.
Cinzas e Sangue
[Cendres et Sang, Fanny Ardant, 2009]