Se As Aventuras de Pi não tivesse sido lançado do mesmo ano, daria para desconfiar de A Aventura Kon-Tiki. É impressionante como os dois filmes têm ideias parecidas para materializar as aventuras em alto-mar de seus protagonistas. Baleias gigantes, medusas incadescentes e até plâncton luminoso fazem parte do acervo de achados visuais que os filmes oferecem. Se no longa de Ang Lee, esses achados ajudam a construir o universo fantástico imaginado pelo diretor, no filme norueguês ele deveria ser a cereja no bolo de um projeto convencional que parece ter o Oscar como objetivo.
O filme de Joachim Rønning e Espen Sandberg é um daqueles longas em que absolutamente tudo está no lugar e, por isso mesmo, nada chama muito a atenção. Trata-se da reconstituição fiel da história real da viagem do explorador Thor Heyerdal, que em 1947 descobriu indícios de que a Polinésia teria sido povoada pelos incas e não pelos asiáticos como se acreditava. Para provar, ele se dispôs a enfrentar uma jornada mar adentro numa jangada feita com a tecnologia do povo Inca. A história virou livro e um documentário, dirigido pelo próprio Heyerdal, que ganhou o Oscar em 1950.
A Aventura de Kon-Tiki foi o filme mais caro já feito na Noruega. Isso explica os efeitos especiais excelentes, mas aproxima o filme de um movimento crescente de superproduções internacionais bancadas por seus países de origem, como o espanhol O Impossível e o futuro novo longa do coreano Bong-Joon ho, Snowpiercer, mas o longa norueguês ganha pelo fato de ser falado em sua língua-mãe. Ele aponta para uma perspectiva bizarra, a de que, na tentativa de criar um cinema internacional, filmes como este parecem pasteurizados.
Desde a fotografia instagramizada até a direção de arte impecável, Kon-Tiki parece um filme sem pecados, limpinho, que assume essa “limpeza” como sinônimo de qualidade. Os diretores, que já trabalharam em Hollywood, adotaram um modelo de melodrama americano sem identidade, que não ofende ninguém, mas também não oferece nada além da embalagem e de algumas lições de moral. E se a cereja do bolo deveriam ser os efeitos especiais, as semelhanças visuais com As Aventuras de Pi eclipsaram o grande trunfo do filme. Um trabalho competente para quem não exige muito.
A Aventura de Kon-Tiki ½
[Kon-Tiki, Joachim Rønning & Espen Sandberg, 2012]
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