O limite entre realidade e ficção é, mais uma vez, o tema de um filme de François Ozon. Mas se em Swimming Pool, os elementos oníricos pareciam mais um exercício de linguagem, ou uma brincadeira para que o cineasta namorasse com alguns aspectos do cinema noir, Dentro de Casa usa a ficção para definir psicologicamente seu protagonista. Fabrice Luchini é Germain, um professor de literatura e um escritor frustrado que encontra num novo aluno não apenas o talento que nunca conseguiu desenvolver como a inspiração para uma rotina que há tempos não o motiva.
As primeiras cenas do filme, desde o momento em que Germain lê o trabalho de Claude, que detalha o relacionamento dele com um colega e sua família, são as melhores, com Ozon começando a costurar a cumplicidade entre os dois personagens como uma espécie de parceria autoral. O professor pede ao estudante para que ele explore determinados detalhes e aspectos da convivência com o amigo e o cineasta encontra um modelo narrativo delicioso para materializar o exercício. As cenas em que o aluno visita a casa do colega – sob um voice over em que Claude lê seu texto – ganham um tom idílico, que parece ser a tradução perfeita para o trabalho.
Mas o filme começa a desandar quando Ozon, seguindo a peça original de Juan Mayorga, resolve ser mais literal em sua proposta, ultrapassando a questão da projeção do professor no estudante. Ele passa não apenas a questionar a suposta ficcionalização dos fatos relatados por Claude, mas os transforma numa espécie de devaneios metalingüísticos que fazem a brincadeira com a literatura perder o encanto. O cineasta resolve a se concentrar mais no impacto do que na forma, com diálogos óbvios sobre a estrutura da história que os personagens escrevem. Nem o talento do novato Ernst Umhauer faz o diretor retomar as rédeas do que se transforma num thriller psicológico com reviravoltas esquizofrênicas enquanto poderia ser um belo estudo sobre o processo de criação.
Dentro de Casa ½
[Dans la Maison, François Ozon, 2012]
chico fireman,qual seu filme francês favorito?
Putz, difícil. “A Paixão de Joana D’Arc”, do Dreyer, provavelmente.