O BOM É BOM, O MAU É MAU

Peter Mullan faz de seu filme-denúncia um arremedo involuntário de estereótipos

Peter Mullan aprendeu com seu diretor em Meu Nome é Joe (98), Ken Loach, que o cinema pode ser uma arma de denúncia. Em seu segundo longa-metragem atrás das câmeras, ele invade um dos conventos irlandeses onde eram depositadas as mocinhas consideradas mais avançadas pela sociedade paternalista da ilha de Sinéad O’Connor; adolescentes que pecavam algumas vezes apenas porque sorriam excessivamente para os garotos da época ou que tinham o azar de serem estupradas pelos primos. Os conventos eram lugares para se esconder a sujeira dos bastidores familiares. O tema é bastante atrativo, sobretudo pela lógica reacionária do pensamento de quem manda a própria filha para um lugar deste tipo: Em Nome de Deus acompanha como três destas garotas foram parar na sua prisão e abraça uma quarta personagem já dentro do convento.

Mas Mullan carrega nas cores do seu filme e exagera nos estereótipos. Das quatro protagonistas, apenas aquela que não consegue conter sua própria sensualidade ganha uma composição realmente abrangente. Pena que seja a mais fraquinha do elenco e não consiga sustentar a sutileza necessária para um papel do porte. As demais são ingênuas e boas ao extremo ou ainda demonstram desvios psicológicos evidentes, o que corroboraria para entender seu comportamento “mundano”. Não parecem personagens reais. Ou inteiramente reais. Mas é a composição das freiras o que mais é problemático no filme: as irmãs são pessoas tão impuras de coração que mais parecem vilãs de contos de fada. O texto destinado à madre superiora por pouco não torna todo o filme um ingênuo e risível espetáculo onde há pouco o que valorizar. A cena da urtiga ainda é o melhor do irregular trabalho de Peter Mullan como diretor.

EM NOME DE DEUS
The Magdalene Sisters, Grã-Bretanha/Irlanda, 2002.

Direção e Roteiro: Peter Mullan.

Elenco: Geraldine McEwan, Anne-Marie Duff, Nora-Jane Noone, Dorothy Duffy, Eileen Walsh, Mary Murray, Britta Smith, Frances Healy, Eithne McGuinness, Phyllis MacMahon, Rebecca Walsh, Eamonn Owens, Chris Simpson, Sean Colgan, Daniel Costello e Peter Mullan.

Fotografia: Nigel Willoughby. Montagem: Colin Monie. Direção de Arte: Mark Leese. Música: Craig Armstrong. Figurinos: Trisha Biggar Produção: Frances Higson.

nas picapes: Someone To Watch Over Me, Sinéad O’Connor.

Comentários

comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *