A primeira associação de críticos a anunciar seus prêmios em 2010 foi o National Board of Review e, no quesito roteiro original, o grupo elegeu um filme que não aparecia em nenhuma das listas de apostas que circulavam pela internet. O longa era Enterrado Vivo e o prêmio para seu roteiro foi justíssimo. O filme dirigido pelo espanhol Rodrigo Cortés partia de uma ideia que nós já vimos muito por aí, inclusive na obra de Quentin Tarantino: uma pessoa acorda dentro de um caixão. Mas o que era uma cena ou uma sequência de cenas nos outros longas é o filme em si neste caso. Enterrado Vivo se passa inteiramente dentro de um caixão.
Não existem cenas externas nem flashbacks, escolhas que seriam óbvias para dinamizar um filme com este tema. O roteiro de Chris Spalding é radical: qualquer interação entre o protagonista com o mundo exterior é feita exclusivamente por telefone. O texto cria uma extensa variedade de situações que emprestam uma agilidade à trama que falta em muito filme de velocidade e passa pelos mais diversos tópicos e formatos. Há desde uma declaração apaixonada entre marido e esposa até as críticas à burocracia e à política das grandes corporações, sem esquecer de alfinetar a postura dos Estados Unidos nos países ocupados e os militares.
Um leque de possibilidades que exige do personagem principal e único ator que aparece em cena, Ryan Reynolds. Todos os outros intérpretes do filme têm performances vocais, o que deixa Reynolds com uma responsabilidade gigantesca. O ator, sempre escorado em papeis em comédias, romances ou filmes de ação, nunca teve a chance de mostrar do que – ou se – era capaz. Aqui o ex-marido de Scarlett Johansson surpreende com uma interpretação segura, oscilando com fluidez entre o emocionado, o nervoso e o descontrolado. Um papel complexo que ele defende com destreza.
Mas além de um roteiro cheio de desdobramentos e de um ator mais do que eficiente, Rodrigo Cortés se preocupou em deixar o filme, um convite à claustrofobia, menos difícil de se assistir. Para isso apostou numa montagem ágil, mas sem se render a excessos de maneirismos e criou vários elementos que garantem variedade à fotografia, explorando uma micro-paleta de cores que dão ainda mais movimento ao filme. O único senão de Enterrado Vivo é quando surge um segundo elemento no caixão, numa cena que parece um tom acima da tensão palpável e crível que impregna o filme inteiro. Não fosse por isso, o filme de Cortés seria perfeito.
Enterrado Vivo
[Buried, Rodrigo Cortés, 2010]
Caramba, devo pedir desculpas. No calor da escrita terminei escrevendo, escrevendo e spoilando. Foi sem querer. Mas nem tudo está perdido, não contei o final. Um abraço.
Eu gostei do filme, mas acho a premissa melhor que o resultado final. As cenas são bem dirigidas, mas não acho que Ryan Reynolds segure as pontas. E o pano de fundo político é interessante, porém muitas vezes até desnecessário (pra não dizer raso). Eu me diverti com a tensão do filme. O resultado final, na minha reavalição, fica aquém do que poderia sair com um diretor melhor e outro ator. Faltou carga dramática que fosse além do roteiro. Se fosse filmesdolayo seria 3 estrelas. 😉
Vitor, precisava ventilar esses spoilers?
Chico, confesso que o roteiro é maravilhoso. Entretanto, não me senti claustrofóbico quando assisti ao filme. Bem verdade que algumas cenas te deixam tenso. Porém, você vai até rir, as cenas de desarmamento de bomba em GUERRA AO TERROR me deixaram muito mais em pânico do que as cenas deste filme. Concordo com você, aquela cena da cobra poderia ter ficado de fora, foi um excesso. E não gostei muito da cena na qual ele mutila o próprio dedo, achei desnecessária. Enfim, discordo quanto as estrelinhas. Ou, não entrei no clima do filme. É esperar 127 horas, vamos ver se este me surpreende.
Chicó, esse elemento no caixão é uma das minhas cenas do ano.