A atriz italiana Alba Rohrwacher, estrela do controverso A Bela que Dorme, do mestre Marco Bellocchio, também interpreta a protagonista do filme mais recente da cineasta alemã Doris Dörrie. Felicidade é uma história de amor improvável entre uma imigrante ilegal e um mendigo punk em Berlim.
Dona de uma delicadeza inerente, Alba empresta a seus papéis uma fragilidade que contrasta com as situações pesadas por que passam seus personagens. Em Felicidade, ela vive Irina, uma mulher macedônia que foge da Guerra dos Balcãs e encontra num país estranho, na prostituição, a única maneira de se sustentar. Assumir esse meio de vida é sua única atitude de enfrentamento diante de um mundo do qual ela tenta se proteger.
O encontro de Irina com Kalle, um pedinte que ela conhece na rua, transforma a personagem. A aproximação entre os dois é atrapalhada, mas, aos poucos, ambos vêem suas barreiras de autoproteção desabando. Como a prostituta, Kalle, vivido por Vinzenz Kiefer, é um homem para quem a única opção foi a solidão. Ele largou a companhia da família para exercer o sonho de uma vida sem amarras, da liberdade plena. Sonhos que não o levaram muito longe.
Felicidade mostra o encontro entre dois personagens desiludidos que estranham quando se vêem diante da chance do amor. Pessoas que demoram a reconhecer no outro uma possibilidade de relacionamento e de salvação. Doris Dörrie, como costuma fazer, trafega num terreno misto entre o drama e a comédia, invadindo o ridículo, provocando reações contraditórias na plateia, imprimindo ao filme um jeito desajeitado que, de certa forma, traduz a história de amor que os personagens vivem. É justamente esse tom, desarrumado, atrapalhado, que faz de um filme a princípio banal um belo filme.
Felicidade
[Glück, Doris Dörrie, 2012]