Ferrugem e Osso

A partir do encontro entre um ex-boxeador e uma treinadora de baleias assassinas, o francês Jacques Audiard costura uma história de amor. Se o perfil dos personagens já indicava que o diretor seguiria um caminho diferente dos melodramas tradicionais, a maneira como ele comanda os atores confirma que o objetivo de Audiard era mesmo desromantizar a ação (e a relação). O cineasta cria um ambiente em que Matthias Schoenaerts e Marion Cotillard são impedidos de emular quaisquer maneirismos dramáticos, proibidos de cometer excessos.

Suas interpretações econômicas traduzem o ambiente áspero em que vivem Alain e Stéphanie, protagonistas do filme. Estamos num mundo onde não há concessões, apenas uma batalha brutal para sobreviver. A atração entre os personagens surge da identificação. Ambos são colocados à prova pela vida, o grande vilão do filme. Ambos carregam consigo um comportamento agressivo e encontram, um no outro, tanto um porto seguro quanto alguém para proteger. Audiard não transforma esta reunião em redenção, nem transforma os personagens em heróis por conta de seus obstáculos. Tudo se resolve no imediato, sem prospecções.

O filme é baseado em dois contos do canadense Craig Davidson, que foram substancialmente modificados para introduzir uma personagem feminina à história. No original, boa parte do que acontece com Stéphanie é vivida por um homem. Marion Cotillard, uma das melhores atrizes dos dias de hoje, entrega uma interpretação madura, mas o destaque do filme é o brutamontes belga Schoenaerts, que mesmo desdramatizando seu personagem dá conta de expor suas sensibilidades.

O estado de espírito que domina no longa se materializa nas violentas cenas de luta em que se envolve o protagonista. É justamente nelas que o diretor se permite interromper o realismo com que filma, usando câmera lentas que amplificam a brutalidade. Se, de um lado, consegue traduzir o desconforto dos personagens diante do mundo, a fórmula do cineasta simplifica o envolvimento entre duas pessoas, como se Audiard buscasse o sentimento primal que une aquele casal, sem passar pelas múltiplas camadas que determinam a maior parte das relações.

O amor, no fundo, é mundo de complexidades.

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[De Rouille et d’Os, Jacques Audiard, 2012]

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