The Runaways
[The Runaways, Flora Sigismondi, 2010]
Difícil explicar, mas este filme é, ao mesmo tempo, suave demais e esquisito o suficiente. Dakota Fanning incomoda como a vocalista das The Runaways, mas sua falta de ajuste à personagem cria uma interpretação interessante: a cena em que ela dubla David Bowie num concurso de talentos é nonsense, quase grotesca e muito boa. Este talvez seja o filme em que o jeito “o que é que eu tô fazendo aqui?” de Kristen Stewart funcione melhor, mesmo assim sua Joan Jett deixa a desejar. O filme tenta capturar do espírito da época – e até faz isso bem – mas peca no básico: o desenrolar é apressado e a história da banda fica mal contada, sobretudo a separação do grupo. Engraçado é que dá vontade der ver de novo.
Santos Dumont: Pré-Cineasta?
[Santos Dumont: Pré-Cineasta?, Caio Adriano, 2010]
Um documentário que poderia ser bem mais interessante e que fica pelo meio do caminho. Caso adotasse uma proposta mais simples, explicar a história do filme de um minuto em que aparece Santos Dumont, feito num mutoscópio (aparelho que cria movimento a partir de fotos, contemporâneo ao cinematógrafo), talvez funcionasse melhor. Mas o diretor usa 64 minutos para tentar ampliar o achado e filosofar sobre registro, origem do cinema e etc, sem conseguir ser satisfatório nem no factual nem na filosofia. As entrevistas são mal cortadas e vagas e o achado fica sem ser bem explicado.
O Homem do Lado
[El Hombre de al Lado, Mariano Cohn e Gastón Duprat, 2009]
A cenal final deste filme argentino oferece um novo ponto de vista, mais cruel, sobre o longa, que até então era uma comédia insólita sobre um duelo entre dois vizinhos por causa da construção de uma janela. O diretor já carregava o mérito de criar personagens mais complexos do que os de costume, dos quais pode se esperar qualquer coisa e, num último golpe, a mudança de perspectiva faz o resultado parecer ainda mais interessante.
Machete
[Machete, Robert Rodriguez e Ethan Maniquis, 2010]
É bem provável que seja o melhor filme de Robert Rodriguez, uma espécie de síntese de seu cinema seja na forma, na temática ou até na maneira como ele veio à vida, como fruto de um trailer que nunca deveria ter se tornado um filme. O humor de Rodriguez parece estar ficando cada vez mais redondo e inteligente, refinado mesmo, apesar de manter todas suas referências à cultura pop. Mas aqui o diretor usa seu universo cartunesco habitual para fazer um trabalho mais político, engajado e crítico aos Estados Unidos. O elenco está excelente: Danny Trejo, o protagonista mais improvável da História, está perfeito, mas Jeff Fahey, Robert De Niro, que há tempos devia uma, e até Jessica Alba entenderam completamente a brincadeira.
Elvis & Madona
[Elvis & Madona, Marcelo Laffitte, 2009]
O Festival do Rio provou que uma sinopse pode fazer um filme ganhar um prêmio de melhor roteiro porque se há uma coisa que realmente deixa a desejar em Elvis & Madona é justamente seu texto. O filme é uma comedinha simpática sobre a história de amor entre um transexual e uma sapatinha. Embora haja cenas que funcionam bem, como a da She-Ra, o conjunto é muito frágil e a traminha de suspense que surge para chacoalhar sua meia hora final não muita coisa.
Um Filme Inacabado
[Shtikat Haarchion, Yael Hersonski, 2010]
Um documentário bem interessante. Mais pelo seu objeto do que por causa de seu formato, bastante convencional. O longa foi construído a partir da lata de um filme nazista descoberto recentemente que mostra o cotidiano no Gueto de Varsóvia, durante a invasão alemã à Polônia, na II Guerra Mundial. As imagens de arquivo são bem ricas e a direção sabe aproveitá-las ao máximo, mesmo quando elas servem para ilustrar episódios que não necessariamente são os que estão sendo mostrados.
Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
[Loong Boonmee Raleuk Chat, Apichatpong Weerasethakul, 2010]
É meio impossível decifrar completamente um filme de Apichatpong Weerasethakul, mas este parece ser seu trabalho mais delicado, o mais devotado à memória e ao fantástico, elementos caríssimos ao cinema do tailandês. Filme-irmão de Mal dos Trópicos, Tio Boonmee acompanha um homem simples cuja proximidade da morte faz com que fantasmas e seres lendários se materializem em sua frente. Apichatpong é bem corajoso em assumir seus excessos. Quando chama sua criatura para a mesa de jantar, o diretor transpõe parâmetros e limites. A partir daí, tudo o que vem a seguir faz parte de um universo gigante de possibilidades e, dessa forma, tudo parece muito mais puro e simples. Um filme bem perto da criança que o diretor parece guardar dentro de si.
MACHETE, é uma delicia, cara de filme B com muita diversãoooooo! super curti!
Definitivamente preciso ver Tio Boonmee! Anotado para a Mostra!