[festival do rio – boletim dois]

[réquiem ]
direção: Hans-Christian Schmid.

Requiem, 2006. A versão alemã para a mesma história que inspirou O Exorcismo de Emily Rose deleta o processo pós-morte, foco do outro filme, e se atém à cronologia dos eventos que aconteceram com a moça. A opção é passar longe do terror, o que, de certa forma, faz alguma falta, e se concentrar na perturbação da protagonista, que desta vez ganhou uma boa intérprete. Não há busca por choque ou sustos, não se trata de um filme de suspense, mas um retrato psicológico.

Com Sandra Hüller, Burghart Klaussner, Imogen Kogge.

[eu me lembro ]
direção: Edgard Navarro.

Eu me Lembro, 2006. A coletânea de lembranças de Edgard Navarro rendeu um filme memorável, com o perdão do trocadilho. O cineasta se esquiva da obrigação de uma história com começo, meio e fim para criar um mosaico nostálgico onde a música exerce a função de espinha dorsal. Para quem, como eu, acabou de ver Superoutro, do mesmo diretor, a ousadia faz um pouco de falta, mas o estilo amarcord adotado por Navarro consegue êxitos de outra forma, mais pessoal. Muitos momentos não fogem das regras dos filmes de lembranças, mas o espírito anárquico, mesmo que algo recatado, está lá o tempo inteiro. Os dois primeiros atos, infância e adolescência, são melhores do que o ato final, que justamente é o mais factual de todos, o que acontece menos no plano da memória. Nada que conte contra o filme, cuja simplicidade sincera minimiza seus poucos desacertos e multiplica seus encantos.

Com Lucas Valadares, Arly Arnaud, Fernando Neves, João Miguel, Rita Assemany.

[dez canoas ]
direção: Rolf de Heer.

Ten Canoes, 2006. Filme étnico cujo texto brinca com a paciência de se ouvir uma história. Quase metalinguístico neste ponto já que, quando é arrastado, vai e volta no tempo sem necessidade, apenas como estilo formal, o narrador questiona nossa capacidade de aguardar o momento certo para que a história continue a ser contada. Há aquele interesse pelo exótico dos aborígenes australianos, mas o filme tenta nos obrigar a aceitar suas regras como se somente assim pudéssemos frui-lo corretamente. No fim, é mais aborrecido do que interessante.

Com Crusoe Kurddal, Jamie Gulpilil, Richard Birrinbirrin, Peter Minygululu.

Comentários

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10 comentários sobre “[festival do rio – boletim 2]”

  1. Eu já desgosto da parte final. Acho que o filme, além de tudo, é muito nordestino. Acho que os nordestinos se identificam muito. E eu moro em Salvador, imagina!

    Vejo “A Scanner Darkly” amanhã, se tudo der certo.

    Eu não sei como te reconhecer, Mateus.

  2. Não sou Chico, mas não gostei muito de Scanner Darkly. É médio e só… E o Keanu nem em desenho, sabe atuar… hehehehehe

    É, Chico, é tanto filme que eu confundi a sala de exibição. Eu vi Leste de Bucareste nO São Luis.

    Vimos os dois filmes na mesma sala então… eu achei que te vi na sessão de Mundo Novo, mas como não tava perto, nem fui ver se era tua pessoa mesmo… Abraços!

  3. Agora para você me deixar mais feliz, fale sobre ‘A Scanner Darkly’ do Richard Linclater, que foi exibido no Festival do Rio. Tô louco pra ver esse filme, e embora tenha o mediano Keanu, quero ver pela trama, pelo Philip K. Dick, pelo Robert Downey Jr., pelas imagens rotoscópicas, e pelo talento do diretor!! Puxa, e eu que queria ver ‘Waking Life’ mas é tão difícil de achar!

  4. Vi agora há pouco uma entrevista com o Edgard Navarro e o Lucas Valadares, na Play TV. Era aquele programa em que se joga videogame durante a entrevista _o Navarro ficou tão entretido com o jogo que se esquecia de responder…

  5. PTz, vi Requiem e Dez Canoas ontem tmb. dez Canoas achei o mesmo, já Requiem gostei muito. Fui pelo diretor Hans Christian Schmid e nem sabia da parte do exorcismo da história. Já tava gostando, e a parte final mesmo sem o horror, achei fantástica. Por acaso vc tava na sessão de uma hora (ou 12h?) no São Luis para esse e na de 7h15 de Dez Canoas? Abraços!

  6. “mas o filme tenta nos obrigar a aceitar suas regras como se somente assim pudéssemos frui-lo corretamente. “

    A Dama na Água, alguém?

    (provocação off)

  7. Chico, de vez em quando visito seu site. Gosto muito dos seus textos e da sua sensibilidade. Sua cara na fotografia não tem a idade da sua compreensão. Mas vim aqui pra falar de outra coisa. Vi um filme ótimo no fim de semana, em DVD e quis conferir. Ele não consta aqui. Chama-se O Corte, de Costa Gavras, sobre o desemprego na França. Mas aí aproveitei para conferir seu palpite. Acabei lendo sobre Agora ou Nunca, aquele filme inglês com todo mundo feio e triste. Nossa, você foi de uma compaixão… parabéns, rapaz, você entende de cinema e isso te deixa melhor na vida, eu acho.

    Abraço da leitora,
    Cristina

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