Quinze anos atrás eu estava desempregado e gastava minha rescisão basicamente indo ao cinema. Não fazia muita ideia de como registrar minha cinefilia que, àquela altura, já tinha (oficialmente) dez anos de anotações, memórias e filmes favoritos. Mas era a “época de ouro” dos blogues. Eles surgiam como coelhos cada vez que alguém tinha a oportunidade de acessar a internet. E eu mesmo já tinha uma página pessoal, que usava mais como diário de humores do que qualquer outra coisa. A ideia de escrever sobre cinema “em público”, pra todo mundo ler, me parecia um pouco ridícula. Afinal, quem era eu pra dar minha opinião sobre filmes? Que formação eu tinha para escrever resenhas? Que informação eu tinha? Essa pequena crise pessoal, no começo do Retorno de Saturno, acabou quando eu pensei: “e se eu fizer um diário de filmes vistos? E se eu colocar meu nome no título justamente para deixar um clima “aqui de casa”? Surgiu, então, o Filmes do Chico, que virou meu caderno de anotações, meu companheiro mais fiel, meu comparsa.

Foi o ato de escrever aqui que me fez refletir sobre muitos dos filmes que eu vi. Foram inúmeras as vezes em que minha opinião sobre uma obra só nasceu porque eu comecei a rascunhar minhas impressões aqui. E também foi escrevendo aqui que eu descobri amigos, parceiros e pessoas que dividiam o mesmo amor comigo – mesmo estando longe, mesmo eu nunca tendo encontrado pessoalmente. Foi por escrever aqui que tive tantas chances legais, participei de tantas atividades ligadas ao cinema e ao jornalismo que cobre cinema, que conheci tantas pessoas que também escreviam sobre filmes e que fui chamado para integrar a Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Foi com o Filmes do Chico que eu dividi a angústia por esta alcunha, crítico, que hoje aceito um pouco melhor, mas ainda estranho bastante. O tempo foi passando, a vida mudando, o tempo rareando e as vezes em que eu pensei em encerrar está página não foram poucas. Mas ela resiste, mesmo eu escrevendo menos. Parece que tem vida própria esse danado. E foi assim que o meu cantinho chegou aos 15 anos.

Meu filhote debuta e eu não consegui pensar numa maneira melhor de comemorar esse aniversário assim, fazendo listas. Listas podem ser tão rasas, mas ao mesmo tempo tão interessantes, né? Já me vi defendendo listas justamente por elas serem falhas, mutáveis, incompletas. Eu mesmo já me arrependi de todas estas aqui embaixo. Mas listas, acredito eu, são portas de entrada para o conhecimento, a busca, a pesquisa. Colocações podem ser arbitrárias e aleatórias, mas se a simples menção de um filme fizer alguém se interessar em procurá-lo, assisti-lo, tentar entender porque aquele filme é especial para alguém, a lista já valeu a pena. Como a festa é de 15 anos, pensei em listas de 15. Fiz dez, de temas variados, e espero que elas sejam recebidas sem rigidez porque eu as fiz me divertindo, pesquisando, consultando minhas outras listas e alargando conceitos. Acompanhando estas listinhas, atualizei meu Top 100 da vida, seguindo critérios completamente subjetivos, o que faz com que as posições sejam mera formalidade. O importante é celebrar. Obrigado por participar da festa.

Ah, e deixem suas listinhas nos comentários, me indiquem filmes, a casa não apenas agradece. A casa adora.

TOP 100 FILMES DA MINHA VIDA
(por enquanto)

Na Idade da Inocência

100 Na Idade da Inocência
L’Argent de Poche, François Truffaut, 1976

Truffaut se rende definitivamente às crianças e as filma numa espécie de ode à infância.

99 No Silêncio da Noite
In a Lonely Place, Nicholas Ray, 1950

Nicholas Ray respirando o noir por todos os poros. A essência de um gênero.

98 Um Gosto de Mel
A Taste of Honey, Tony Richardson, 1961

Num filme agridoce, Tony Richardson discute a luta de classes, de gênero e de orientação sexual.

97 Supersticioso, O
When Clouds Roll By, Victor Fleming, 1919

Provavelmente uma das melhores comédias de todos os tempos.

96 Encurralado
Duel, Steven Spielberg, 1971

Um cineasta apaixonado por seu objeto, o impulso.

95 Os Reis do Iê-Iê-Iê
A Hard Day’s Night, Richard Lester, 1964

A história do mundo, parte zero, por um cineasta alucinado.

94 O Terceiro Homem
The Third Man, Carol Reed, 1949

Uma maneira genial de ir direto ao ponto. Sobre honra e amizade.

93 A Longa Caminhada
Walkabout, Nicolas Roeg, 1971

Um coming-of-age radical. Um cineasta em busca do coração de seu país.

92 Drácula de Bram Stoker
Bram Stoker’s Dracula, Francis Ford Coppola, 1992

Ao mesmo tempo que assume o cinema como o exercício do truque, utilizando, numa proporção megalomaníaca, fusões, sobreposições, recortes, chroma keys e truncagens das mais variadas, o diretor também não tem limites dramatúrgicos e cênicos para remodelar a história criada por Bram Stoker, sempre trabalhando no limite do excesso, o que deixa o filme num estado de perpétua agonia, como se materializasse a urgência de Drácula em encontrar Mina.

91 Lola, a Flor Proibida
Lola, Jacques Demy, 1961

Uma mulher é uma MULHER.

O Segredo de Brokeback Mountain

TOP 15 FILMES DE TEMÁTICA LGBT

1 O Segredo de Brokeback Mountain [Ang Lee, 2006]
2 Me Chame pelo Seu Nome [Luca Guadagnino, 2017]
3 Delicada Atração [Hettie McDonald, 1996]
4 Meu Passado me Condena [Basil Dearden, 1961]
5 Paris is Burning [Jeannie Livingston, 1990]
6 Priscilla, a Rainha do Deserto [Stephan Elliott, 1994]
7 Morte em Veneza [Luchino Visconti, 1971]
8 E Agora? Lembra-me [Joaquim Pinto, 2013]
9 Carol [Todd Haynes, 2015]
10 Felizes Juntos [Wong Kar-Wai, 1997]
11 A Lei do Desejo [Pedro Almodóvar, 1987]
12 Um Estranho no Lago [Alain Guiraudie, 2013]
13 Uma Mulher Fantástica [Sebastian Lellio, 2017]
14 Garotos de Programa [Gus Van Sant, 1991]
15 Lado Selvagem [Sébastien Lifshitz, 2004]

O Rei da Comédia

90 Os Incompreendidos
Les 400 Coups, François Truffaut, 1959

Truffaut, Léaud e o início de um grande amor.

89 A Evaporação de um Homem
Ningen Jôhatsu, Shôhei Imamura, 1967

Teria Imamura encontrado o último limite do documentário?

88 Boudu Salvo das Águas
Boudu Sauvé des Eaux, Jean Renoir, 1932

A ironia do mais fino dos irônicos. A sociedade em cheque.

87 A Noite dos Mortos-Vivos
Night of the Living Dead, George A. Romero, 1968

O comentário social sobre uma época.

86 Memórias do Subdesenvolvimento
Memorias del Subdesarrollo, Tomás Gutierrez Alea, 1968

O cinema social em sua excelência, forte, cínico e deliciosamente latino.

85 O Fugitivo
I Am a Fugitive From a Chain Gang, Mervyn LeRoy, 1932

A melhor frase final de todos os tempos.

84 O Rei da Comédia
The King of Comedy, Robert De Niro, 1982

Uma fábula do absurdo. E, por mais absurdo que seja, permanece completamente atual em seu retrato do culto à celebridade. O roteiro de Paul D. Zimmerman, um dos três que ele escreveu na vida, atravessa os limites entre a comédia proposta desde a primeira cena e o estudo sério da personagem com muito jogo de cintura, sem perder a fábula, sem abrir mão da melancolia. De Niro tem uma coleção de interpretações maravilhosas, mas seu Rupert Pupkin oferece uma vitalidade até então nova para seu repertório. Ele defende a farsa de Pupkin com muita verdade, cheio de nuances, encontrando pertinência para cada transtorno do protagonista.

83 Cidade dos Sonhos
Mulholland Dr., David Lynch, 2001

A cidade fantasma e suas criaturas.

82 Cléo das 5 às 7
Cléo de 5 à 7, Agnès Varda, 1962

A angústia de esperar e o conforto de encontrar. Por Varda.

81 Céu e Inferno
Tengoku to Jigoku, Akira Kurosawa, 1963

O melhor filme policial do mundo?

O Clube dos Cinco

TOP 15 FILMES SOBRE HIGH SCHOOLS

1 O Clube dos Cinco [John Hughes, 1985]
2 Elefante [Gus Van Sant, 2003]
3 A Paixão de Gregory [Bill Forsyth, 1980]
4 Picardias Estudantis [Amy Heckerling, 1982]
5 A Inocência do Primeiro Amor [David Seltzer, 1986]
6 Jovens, Loucos e Rebeldes [Richard Linklater, 1993]
7 Meninas Malvadas [Mark Waters, 2004]
8 Eleição [Alexander Payne, 1999]
9 Carrie, a Estranha [Brian De Palma, 1976]
10 Curtindo a Vida Adoidado [John Hughes, 1986]
11 As Patricinhas de Beverly Hills [Amy Heckerling, 1995]
12 Três é Demais [Wes Anderson, 1998]
13 Digam o que Quiserem [Cameron Crowe, 1989]
14 Gatinhas e Gatões [John Hughes, 1984]
15 Atração Mortal [Michael Lehmann, 1988]

Picnic na Montanha Misteriosa

80 Os Pássaros
The Birds, Alfred Hitchcock, 1963

Tudo está um tom acima e a ideia parece ser essa mesmo: perder a medida. Os efeitos visuais, que hoje podem parecer simples demais, provam isso. A tecnologia necessária para criar imagens perfeitas ainda não existia, mas isso não segurou Hitch e ele partiu, mais uma vez, para a invenção, criou cenas assustadoras e um filme pertubador.

79 São Bernardo
São Bernardo, Leon Hirszman, 1972

Na fazenda São Bernardo, cada não intenção ganha grandes proporções e se converte na fúria demolidora de Paulo Honório (defendido com crueldade por Othon Bastos) sobre a esposa Madalena (com uma Isabel Ribeiro de feições duras, mas quase blasé). O duelo entre os dois atores domina o filme e conduz a narrativa, fotograda em quadros grandes e imóveis que revelam a solidão e a tristeza dos personagens.

78 Picnic na Montanha Misteriosa
Picnic at Hanging Rock, Peter Weir, 1975

Medo e delírio numa escola para meninas.

77 Desencanto
Brief Encounter, David Lean, 1944

Um elogio ao amor romântico.

76 Uma Página de Loucuras
Kurutta Ippêji, Teinosuke Kinugasa, 1926

Numa época em que os olhos do mundo ainda ignoravam o cinema japonês, Teinosuke Kinugasa fez o que parece ser o filme definitivo sobre a insanidade, dotado de uma modernidade de linguagem que impressiona até hoje. Não por causa de um personagem ou de uma história, mas da forma que o diretor encontrou para traduzir a loucura.

75 Invasores de Corpos
Invasion of the Body Snatchers, Philip Kaufman, 1978

Philip Kaufman lança um olhar profundo para o desmoronamento da ordem social, tornando o grupo de personagens centrais muito mais do que fugitivos, mas figuras subversivas. A Kaufman interessa muito mais o suspense criado pelo desespero da solidão do que qualquer tentativa de figurar o inimigo.

74 A Sombra de Uma Dúvida
Shadow of a Doubt, Alfred Hitchcok, 1943

Joseph Cotten e Teresa Wright maravilhosos no maior dos filmes “menores” de Hitchcock?

73 Pulp Fiction
Pulp Fiction, Quentin Tarantino, 1994

Dos filmes que definem uma geração.

72 Toy Story 3
Toy Story 3, Lee Unkrich, 2010

Do começo a fim, este filme parece ser um feito exclusivamente para encontrar um lugar bom para seus personagens. E isso é feito em forma de uma comédia de ação tradicional que muitas vezes encontra a pureza do melodrama e aí cresce, se espalha e fica gigante.

71 Sátántangó
Sátántangó, Béla Tarr, 1994

A maneira como Béla Tarr apresenta os personagens nos demove da condição de simples espectadores. Ele abre as portas da intimidade e nos obriga ao convívio com suas criaturas por tanto tempo que a contemplação se transforma em cumplicidade.

Faça a Coisa Certa

TOP 15 FILMES DE TEMÁTICA BLACK

1 Faça a Coisa Certa [Spike Lee, 1989]
2 Matador de Ovelhas [Charles Burnett, 1978]
3 A Hora do Show [Spike Lee, 2000]
4 Selma [Ava DuVernay, 2014]
5 Compasso de Espera [Antunes Filho, 1969]
6 Come Back, Africa [Lionel Rogosin, 1959] 
7 Dentro de Nossos Portões [Oscar Micheaux, 1920]
8 Shaft [Gordon Parks, 1971]
9 Boyz N’ The Hood – Os Donos da Rua [John Singleton, 1991]
10 Sweet Sweetback’s Baadasssss Song [Melvin Van Peebles, 1971]
11 Tongues United [Marlon Riggs, 1989]
12 Hoop Dreams [Steve James, 1994] 
13 Febre da Selva [Spike Lee, 1991]
14 Rififi no Harlem [Ossie Davis, 1970]
15 Coffy [Jack Hill, 1973]

O Funeral das Rosas

70 Rastros de Ódio
The Searchers, John Ford, 1956

O absoluto domínio do ambiente.

69 Shoah
Shoah, Claude Lanzmann, 1985

São 9h26 minutos de entrevistas, investigação e relatos que mapeiam o Holocausto sem uma única imagem de arquivo. Para o diretor, o que interessa são os restos, é o que ficou da tragédia. Lanzmann alterna histórias pessoais, análises de comportamento, históricos de lugares. Há tantos momentos impressionantes quanto um filme desse tamanho e dessa proporção deveria ter, mas os depoimentos dos nazistas são crudelíssimos, com o diretor contestando as descrições detalhadas dos trabalhos nos campos e câmaras, sem nunca atacá-los, deixando-os à vontade para relatar o inconcebível.

68 O Funeral das Rosas
Bara no Sôretsu, Toshio Matsumoto, 1969

67 Os Sapatinhos Vermelhos
The Red Shoes, Michael Powell & Emeric Pressburger, 1948

Todas as cores do mundo.

66 A Estrada Perdida
Lost Highway, David Lynch, 1997

2017. Saio da sessão em estado de choque igualzinho ao que aconteceu em 1997.

65 Deus e o Diabo na Terra do Sol
Deus e o Diabo na Terra do Sol, Glauber Rocha, 1964

Imenso e muito particular. Fiz as pazes com Glauber revendo esta obra-prima numa exibição ao ar livre, na Cinemateca.

64 O Poderoso Chefão – Parte II
The Godfather – Part II, Francis Ford Coppola, 1974

Coppola amplia o primeiro filme, cria duas linhas narrativas, acrescentando um componente histórico à saga dos Corleone.

63 A Última Gargalhada
Der Letzte Mann, F.W. Murnau, 1924

O primeiro grande filme sobre a velhice.

62 Aguirre, a Cólera dos Deuses
Aguirre, der Zorn Gottes, Werner Herzog, 1972

Século XVI, uma odisseia na Amazônia.

61 Amantes
Two Lovers, James Gray, 2008

O romantismo de James Gray está não no objeto, mas no caminho até ele. Quando filma seus personagens em Amantes, o cineasta mais nos confunde sobre suas intenções e comportamentos do que nos dá informações sobre eles, tanto na maneira de jogá-los no mundo – há momentos em que a câmera parece ter vida própria, ultrapassando o puro recorte – quanto na de registrar seus afetos. É dessa maneira que todos ganham uma humanização raríssima no cinema de hoje em dia. É difícil defini-los, muito menos julgá-los ou culpá-los, mas entendê-los, por outro lado, torna-se uma arte mais fácil.

Superman, o Filme

TOP 15 FILMES BASEADOS EM COMIC BOOKS E GRAPHIC NOVELS

1 Superman – O Filme [Richard Donner, 1978]
2 Marcas da Violência [David Cronenberg, 2005]
3 Homem-Aranha 2 [Sam Raimi, 2004]
4 X-Men 2 [Bryan Singer, 2003]
5 Akira [Katsuhiro Ôtomo, 1988]
6 Capitão América: O Soldado Invernal [Anthony & Joe Russo, 2014]
7 Oldboy [Park Chan-wook, 2003]
8 Logan [James Mangold, 2017]
9 O Fantasma do Futuro [Mamoru Oshii, 1995]
10 Lady Snowblood [Toshiya Fujita, 1973]
11 Scott Pilgrim contra o Mundo [Edgar Wright, 2010]
12 Persépolis [Vincent Paronnaud & Marjane Satrapi, 2007]
13 Azul é a Cor Mais Quente [Abdellatif Kechiche, 2013]
14 O Diário de uma Adolescente [Marielle Heller, 2015]
15 No Limite do Amanhã [Doug Liman, 2014]

Jeanne Dielman

60 Jeanne Dielman
Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles, Chantal Akerman, 1975]

A rotina era o refúgio e a prisão para Jeanne Dielman, da Rua do Comércio 23, em Bruxellas. Depois da morte do marido, ela encontrou num cotidiano milimetricamente planejado tanto o sustento da casa e do filho apático quanto um esconderijo para seu luto, sua culpa, sua solidão. Mas o conto de Jeanne era frágil, começou a despedaçar quando a primeira coisa passou do ponto. Foi o suficiente para que o conforto e a segurança daquelas reprises do dia-a-dia, tão meticulosamente registradas, sofressem um abalo em ritmo de bola de neve. Jeanne tentou resolver e recebeu um conselho: “Quando a gente troca todos os botões, a roupa fica como nova. É como se você tivesse saído do cabeleireiro”. Mas e quando você não acha os botões para trocar?

59 Interlúdio
Notorious, Alfred Hitchcok, 1946

A cena da chave.

58 O Despertar dos Mortos
Dawn of the Dead, George A. Romero, 1978

Se de um lado temos a aventura de sobrevivência de quatro sobreviventes (da epidemia de mortos-vivos) trancados num shopping, do outro temos um filme interessado em questionar em uma série de camadas o consumismo, o capitalismo e até nossas formas de organização social com uma ironia refinada e voraz.

57 A Regra do Jogo
La Règle du Jeu, Jean Renoir, 1939

A punhalada fatal no homem burguês.

56 O Atalante
O Atalante, Jean Vigo, 1934

Se um dia o cinema conseguiu ser lírico, foi aqui.

55 Gêmeos – Mórbida Semelhança
Dead Ringers, David Cronenberg, 1988

O duplo – levado ao extremo.

54 Bom Trabalho
Bom Trabalho, Claire Denis, 1999

É bem difícil fazer poesia no cinema. Claire Denis conseguiu em Bom Trabalho. De um lado, um texto que só aparece quando é extremamente necessário e serve para pontuar o inspiradíssimo trabalho de composição visual e sonora deste filme. Cada plano e cada cena depois de cada plano estão impregnadas de leveza ao mesmo tempo em que carregam um simbolismo fortíssimo. A diretora consegue contar uma história da Legião Estrangeira sem o peso do clichê da guerra, como um balé delicado, mas duro. É impressionante como o filme nunca perde o equilíbrio entre o masculino – o elenco principal é formado apenas por homens – e o feminino, presente nos menores detalhes da fotografia. A maneira como Denis e Agnès Godard filmam os corpos masculinos, com uma suavidade quase gay, cria o mais rico estranhamento para o filme, transforma Bom Trabalho num exemplar único. Nunca imaginei que fosse gostar tanto de um filme que começa com Tarkin e termina com Corona.

53 Através de um Espelho
Såsom i en Spegel, Ingmar Bergman, 1961

A fé em crise. A fé como dor. A fé mais forte do que nunca.

52 Corrida Sem Fim
Two-Lane Blacktop, Monte Hellman, 1971

A América do meio por de seus cineastas mais intensos.

51 Os Esquecidos
Los Olvidados, Luis Buñuel, 1950

A obra-prima sobre a miséria.

Meu Vizinho Totoro

TOP 15 ANIMES

1 Meu Vizinho Totoro [Hayao Miyazaki, 1988]
2 A Viagem de Chihiro [Hayao Miyazaki, 2001]
Akira [Katsuhiro Ôtomo, 1988]
4 Perfect Blue [Satoshi Kon, 1997]
5 Crianças Lobo [Mamoru Hosoda, 2012] 
6 Neon Genesis Evangelion: O Fim de Evangelion, Hideaki Anno & Kazuya Tsurumaki, 1997]
7 Náusica do Vale dos Ventos [Hayao Miyazaki, 1984]
O Fantasma do Futuro [Mamoru Oshii, 1995]
9 O Conto da Princesa Kaguya [Isao Takahata, 2013]
11 Paprika [Satoshi Kon, 2006]
12 Princesa Mononoke [Hayao Miyazaki, 1997]
13 Ninja Scroll [Yoshiaki Kawajiri, 1993]
14 Metropolis [Rintaro, 2001]
15 O Túmulo dos Vagalumes [Isao Takahata, 1988]

O Monstro do Circo

50 Sindicato de Ladrões
On the Waterfront, Elia Kazan, 1954

O poder simbólico da sequência que encerra o filme é brutal. Pode conquistar ou repelir o espectador. Mas até ela chegar, Kazan filma com tanta maestria, cria cenas tão imponentes, como o discurso do padre no cais, ou tão simples como o beijo que leva o casal ao chão, com tanta delicadeza que transforma este filme num dos maiores já feitos pelo cinema norte-americano.

49 Luzes da Cidade
City Lights, Charles Chaplin, 1931

A história da delicadeza.

48 O Iluminado
The Shining, Stanley Kubrick, 1980

Primeiro, há o impacto daquela imensidão, seja nas cenas abertas, seja nas internas. Nada escapa à câmera de John Alcott, que promove um romance entre as cores da fotografia e os cenários majestosos. Cada quadro é extremamente calculado, com todos os elementos de cena arranjados em função de um equilíbrio não puramente estético, mas conceitual – em favor do clima de prisão superdimensionada. A importância do espaço, algo comum a toda a filmografia kubrickiana, é mais forte aqui já que, neste filme, o hotel é quase uma personagem. Os três protagonistas vagam pelo cenário estabelecendo pequenas jornadas solitárias até se perderem dentro dele, ao som de uma música perturbadora.

47 O Monstro do Circo
The Unknown, Tod Browning, 1927

A obra-prima de Tod Browning.

46 Tabu
Tabu, Miguel Gomes, 2012

Tabu é dividido em dois. É simples e é complexo. Um filme em que cabe um universo inteiro. É sobre a história de duas pessoas e sobre a história do mundo. Sobre o presente e sobre o passado. Sobre a memória e seus vestígios. Sobre cinema clássico e cinema contemporâneo. Democracia e colonização. Nostalgia e pensamento crítico. O mais novo desafio de Miguel Gomes desperta as mais variadas leituras, versa sobre os temas mais diferentes, tem significados demais para que todos caibam num só texto.

45 Compasso de Espera
Compasso de Espera, Antunes Filho, 1969

Um dos grandes filmes que o cinema brasileiro produziu entre os 60 e os 70.

44 O Caso dos Irmãos Naves
O Caso dos Irmãos Naves, Luis Sergio Person, 1967

É impressionante como Person conseguiu lançar o filme, que, em resumo, trata dos excessos e da violência de um regime ditatorial justamente durante um regime ditatorial. O filme é de 1967, três anos após o golpe de estado que instala um novo regime militar no Brasil, situação histórica que guarda alguma semelhança com a do momento em que aconteceram os fatos que o filme relata.

43 Intriga Internacional
North by Northwest, Alfred Hitchcock, 1959

Uma obra-prima do cinema de entretenimento. Uma obra-prima do cinema.

42 Quanto Mais Quente Melhor
Some Like it Hot, Billy Wilder, 1959

Sexo, sexo e mais sexo. O filme mais libertino de Billy Wilder.

41 Taxi Driver
Taxi Driver, Martin Scorsese, 1976

Sobre a metrópole e suas criaturas da noite. Robert De Niro e Jodie Foster monstros.

Invasores de Corpos

TOP 15 FILMES DISTÓPICOS

1 La Jetée [Chris Marker, 1962]
2 O Jogo da Guerra [Peter Watkins, 1965]
3 Invasores de Corpos [Philip Kaufman, 1978]
4 O Despertar dos Mortos [George A. Romero, 1978]
5 Eles Vivem [John Carpenter, 1988]
6 Brazil, o Filme [Terry Gilliam, 1985]
7 Metrópolis [Fritz Lang, 1927]
8 Mad Max: Estrada da Fúria [George Miller, 2015]
9 Minority Report [Steven Spielberg, 2002]
10 Fahrenheit 451 [François Truffaut, 1966]
11 A Última Esperança da Terra [Boris Sagal, 1971]
12 Akira [Katsuhiro Ôtomo, 1988]
13 Punishment Park [Peter Watkins, 1971]
14 Planeta dos Macacos: O Confronto [Matt Reeves, 2014]
15 Wall-E [Andrew Stanton, 2008]

História de Taipei

40 O Clube dos Cinco
The Breakfast Club, John Hughes, 1985

Aqui John Hughes fez o que nenhum outro cineasta de sua época ousou fazer: fez de cinco estereótipos, cinco protagonistas. Enclausurou-os num filme em que mal contracenam com outros personagens. Procurou humanizar e entender cada um deles sem fazer concessões.

39 Iracema – Uma Transa Amazônica
Iracema – Uma Transa Amazônica, Jorge Bodanzky & Orlando Senna, 1975

A ficção brasileira nunca foi tão documental.

38 O Perigoso Adeus
The Long Goodbye, Robert Altman, 1973

Altman faz seu Philip Marlowe falar baixo, quase sussurrando, o tempo todo, como se ouvíssemos o que ele pensa e não o que ele diz. A composição das falas do protagonista com o som ambiente e a trilha sonora é perfeita porque Altman abusa dos dois, mas nunca perdemos “os pensamentos” do personagem de Elliott Gould de vista. Por sinal, que interpretação maravilhosa a desse homem. Sem dúvida, seu grande momento.

37 Tudo que o Céu Permite
All That Heaven Allows, Douglas Sirk, 1955

O melhor melodrama já feito na história do cinema mundial?

36 Apocalypse Now
Apocalypse Now, Francis Ford Coppola, 1979

A insanidade registrada de maneira insana. A obra-prima do cinema onde tudo deu errado.

35 A Estirpe dos Malditos
Children of the Damned, Anton M. Leader, 1964

À primeira vista, parece uma continuação picareta, mas surpreende desde a abertura, com stills incomuns do personagem principal, Paul. As cenas seguintes revelam um elaborado trabalho de fotografia, que serve de apoio para um dos melhores filmes políticos que eu já vi. Hoje em dia, é facil classificá-lo como datado, mas eu custo a lembrar de ver a Guerra Fria ser tão bem traduzida num longa-metragem. O roteiro, correndo o risco da adjetivação, é inteligentíssimo e completamente metafórico; o retrato de uma época e, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre intolerância étnica.

34 História de Taipei
Qing Mei Zhu Ma, Edward Yang, 1985

A cidade em obras, as pessoas em decomposição, o cinema sendo construído.

33 O Parque Macabro
Carnival of Souls, Herk Harvey, 1962

Um diretor estreante, de filme único, que, em 1h18, fez a obra mais impressionante e influente do cinema de terror dos anos 60.

32 Amor à Flor da Pele
Fa Yeung Nin Wa, Wong Kar-Wai, 2000

O amor quando acontece. E a saudade do que poderia ter sido. Num lindo registro de cinema.

31 Cenas de um Casamento
Scener ur ett Äktenskap, Ingmar Bergman, 1973

Maridos e Esposas, duas décadas antes de Maridos e Esposas. Em versão revista, ampliada, sofrida, furiosa.

O Despertar dos Mortos

TOP 15 FILMES DE ZUMBIS

1 O Despertar dos Mortos [George A. Romero, 1978]
2 A Noite dos Mortos-Vivos [George A. Romero, 1968]
3 Terra dos Mortos [George A. Romero, 2005]
4 Zumbi 2 [Lucio Fulci, 1979]
5 Todo Mundo Quase Morto [Edgar Wright, 2004]
6 A Noite do Terror Cego [Amando de Ossorio, 1972]
7 Não se Deve Profanar o Sono dos Mortos [Jorge Grau, 1974] 
8 Invasão Zumbi [Sang-ho Yeon, 2016]
9 A Morte do Demônio [Sam Raimi, 1981]
10 Extermínio [Danny Boyle, 2002]
11 [REC] [Jaume Balagueró & Paco Plaza, 2007]
12 Os Mortos Vivos [Gary Sherman, 1981]
13 Juan dos Mortos [Alejandro Brugués, 2011]
14 Planeta Terror [Robert Rodriguez, 2007]
15 A Maldição dos Mortos-Vivos [Wes Craven, 1988]

Manila nas Garras de Neon

30 O Medo Devora a Alma
Angst vor der Angst, Rainer Werner Fassbinder, 1974

Sabe o melhor melodrama já feito na história do cinema mundial do número 37? Fassbinder refilmou e fez um filme ainda mais forte.

29 Meu Vizinho Totoro
Tonari no Totoro, Hayao Miyazaki, 1988

O mágico, o folclórico, o mitológico para entender, explicar

28 O Homem com a Câmera
Chelovek s Kino-apparatom, Dziga Vertov, 1929

O homem, a cidade, a vida e a câmera, decidindo o que e como mostrar.

27 Um Corpo Que Cai
Vertigo, Alfred Hitchcock, 1958

O tormento da alma e os delírios do filme.

26 O Incrível Homem que Encolheu
The Incredible Shrinking Man, Jack Arnold, 1957

O melhor filme da era atômica, de uma inteligência visual raramente vista no cinema de gênero da época, com alguns planos de fazer inveja a Hitchcock. Jack Arnold, em sua melhor fase, estuda e planeja cada cena e cria imagens assustadoras e fortemente simbólicas. Quando mais parece ser devorado por um mundo gigante, mais o protagonista luta por sua vida. A frase final é seu legado para a humanidade. Uma obra-prima.

25 2001: Uma Odisséia no Espaço
2001: A Space Odissey, Stanley Kubrick, 1968

A filosofia da arte e o assombroso do cinema.

24 Elefante
Elephant, Gus Van Sant, 2003

Como entender o que não tem uma explicação apenas? Como dar dimensão e perspectiva ao nascimento de uma tragédia? Como investigar a violência sem condenar o executor? Gus Van Sant captura um sentimento perseguindo os ecos do fantasma. Observa com delicadeza os intervalos entre os arquétipos do highschool norte-americano. Constrói a partir de imagens e sons – a palavra é uma coadjuvante – um inventário da geração que recebeu a mais pesada das heranças, o culto à força, e não aguentou. Faz um dos mais vivos filmes sobre a morte. O elefante está na sala. Só não vê quem não quer.

23 Era uma Vez no Oeste
C’Era una Volta il West, Sergio Leone, 1968

A imagem. A música. Os olhos de Bronson. Depois que Sergio Leone chegou aqui, o cinema entendeu que não tinha como ir além.

22 Manila nas Garras da Luz
Maynila sa mga Kuko ng Liwanag, Lino Brocka, 1975

Existem dois protagonistas: um é Julio, o homem; o outro é Manila, a cidade. Desde o primeiro momento, Lino Brocka deixa claro que este é um daqueles contos do homem contra a cidade, do amor contra o mundo. Nos 125 minutos seguintes, Julio e Manila vão duelar até um sufocar o outro. Nessas pouco mais de duas horas, Brocka faz um inventário das tragédias da cidade: com Julio, discute o subemprego, a violência, a habitação irregular, o mercado do sexo masculino, o mercado do sexo feminino, entre dezenas de outras questões. O impressionante é que a abordagem do cineasta nunca cai num discurso meramente panfletário porque Brocka amarra todas suas discussões à jornada de Julio em busca de Ligaya. E a aridez da vida na capital das Filipinas ganha um inesperado contorno melancólico, que torna qualquer debate demasiadamente humano.

21 O Beijo Amargo
The Naked Kiss, Samuel Fuller, 1964

O espectador é apresentado a sua protagonista no meio de um acesso de fúria, atacando violentamente um homem a golpes de sapato, e, por fim, revelando que usa uma peruca para esconder a cabeça sem um só fio de cabelo. Estamos diante de uma heroína em estado puro, mas sem qualquer pureza. A imagem inicial persegue quem assiste ao filme ao longo de seus 90 minutos, na mesma medida em que o passado da personagem é um fantasma que ameaça a transformação que ela tanto almeja. Fuller versa sobre a falência do “sonho americano”, desmistificando o idílio da vida numa cidade do interior, subvertendo o perfil da mocinha da história

Todos os Homens do Presidente

TOP 15 FILMES SOBRE JORNALISMO

1 Todos os Homens do Presidente [Alan J. Pakula, 1976]
2 A Montanha dos Sete Abutres [Billy Wilder, 1951]
3 Rede de Intrigas [Sidney Lumet, 1976]
4 A Embriaguez do Sucesso [Alexander Mackendrick, 1957]
5 Quase Famosos [Cameron Crowe, 2000]
6 Zodíaco [David Fincher, 2007]
7 Cidadão Kane [Orson Welles, 1941]
8 No Silêncio de uma Cidade [Fritz Lang, 1956]
9 A Doce Vida [Federico Fellini, 1961]
10 Frost/Nixon [Ron Howard, 2008]
11 O Dia em Que a Terra se Incendiou [Val Guest, 1961]
12 Capote [Benett Miller, 2006]
13 Nos Bastidores da Notícia [James L. Brooks, 1987]
14 Jejum de Amor [Howard Hawks, 1940]
15 A Primeira Página [Billy Wilder, 1974]

Um Caminho para Dois

20 Crepúsculo dos Deuses
Sunset Blvd., Billy Wilder, 1950

Toda vez que eu revejo parece a primeira vez. Um filme infinito.

19 Onde Começa o Inferno
Rio Bravo, Howard Hawks, 1959

O western subversivo.

18 Vale Abraão
Vale Abraão, MManoel de Oliveira, 1993

A mulher.

17 Contatos Imediatos do Terceiro Grau
Close Encounters of the Third Kind, Steven Spielberg, 1977

“Ontem à noite, o sol desceu e cantou pra mim”. Faz quarenta anos que um velhinho mexicano contou esse segredo para François Truffaut num filme de Steven Spielberg. Era o terceiro longa para cinema do cineasta que viraria sinônimo de Hollywood, rodado numa época em que o conceito de blockbuster ainda nem existia direito, e foi possivelmente o momento em que as intenções poéticas deste diretor melhor encontraram uma expressão cinematográfica. A concepção visual das naves visitantes, do próprio Spielberg, é de uma beleza e de uma modernidade que impressionam até hoje, era de ouro dos efeitos especiais. O cineasta insere o artifício à sua narrativa com tanto encantamento, filma com tanta paixão, que o fato desta ser uma obra conduzida por seus efeitos e pelo impacto que eles provocam é um mínimo detalhe. Richard Dreyfuss encarna com devoção a ingenuidade com que Spielberg olha para o mundo – e para o que enxerga além dele. E poucos cineastas “industriais” conseguem ser tão honestos com suas ideias (e tão autores) como o diretor deste filme neste filme.

16 Close-up
Nema-ye Nazdik, Abbas Kiarostami, 1990

O plano final deste filme… A sacada final deste filme… Este filme…

15 A Mulher da Areia
Suna no Onna, Hiroshi Teshigahara, 1964

Máscaras, armas e vestes rudes evocam um barbarismo impensado na época em que vivemos, do qual não há como saber o que se esperar. Teshigahara tem um controle absoluto sobre o projeto, coordenando atuações, música e câmera como se estivesse no comando de uma orquestra macabra. É uma vitória do instinto sobre a razão, duelo que está na espinha dorsal do longa e do qual o protagonista tenta escapar. A prisão de areia de Niki Jumpei, fotografada com uma beleza rara, é um dos cárceres mais horrendos da história do cinema.

14 O Homem de Palha
The Wicker Man, Robin Hardy, 1973

O delírio filmado com riqueza de detalhes. A possessão registrada de forma jamais vista. A alucinação em estado puro.

13 O Bandido da Luz Vermelha
O Bandido da Luz Vermelha, Rogério Sganzerla, 1968

Sobre o cinema libertário.

12 Um Caminho para Dois
Two for the Road, Stanley Donen, 1967

De certa forma, resume os anos 60, trazendo para o cinema convencional uma visão libertária do amor, das relações e do casamento. Audrey Hepburn e Albert Finney, absolutamente maravilhosos, dão voz a um texto tão irônico quanto delicado sobre as transformações do amor ao longo de um relacionamento. Stanley Donen dá movimento a essa proposta com o mesmo ritmo delicioso de seus mais alucinados musicais. As cenas de estrada, que atravessam, fora de ordem, a cronologia de viagens do casal, invadem umas as outras, fornecendo uma inesperada melodia extra à narrativa. Dono de vários clássicos, aqui o cineasta realizou um de seus projetos mais especiais, que talvez fosse o filme definitivo sobre o amor, se o amor fosse tão definitivo assim.

11 Cantando na Chuva
Singin’ in the Rain, Gene Kelly & Stanley Donen, 1952

A cada revisão, espero achar algum defeito porque é bem óbvio considerar este filme uma obra-prima. Mas é francamente impossível. Continua sendo o filme que melhor falou sobre o cinema e ainda é o melhor musical já feito (com um punhado de números geniais). Mesmo sendo um produto de estúdio, é sarcástico e provocador como poucos filmes. Gene Kelly e Stanley Donen caçoam do cinema comercial hollywoodiano dos anos 20 ao mesmo tempo em que se empenham para mostrar como aconteceu a maior revolução da história dos filmes.

Cidadão Kane

TOP 15 FILMES DE ESTREIA

1 Cidadão Kane [Orson Welles, 1941]
2 O Bandido da Luz Vermelha [Rogério Sganzerla, 1968]
3 O Atalante [Jean Vigo, 1934]
4 Os Incompreendidos [François Truffaut, 1959]
5 A Infância de Ivan [Andrei Tarkovsky, 1962]
6 Gosto de Sangue [Joel Coen (& Ethan Coen, 1984]
7 A Noite dos Mortos-Vivos [George A. Romero, 1968]
8 Acossado [Jean-Luc Godard, 1960]
9 Isto é Spinal Tap [Rob Reiner, 1984]
10 Limite [Mário Peixoto, 1931]
11 Terra de Ninguém [Terrence Malick, 1973]
12 O Homem de Palha [Robin Hardy, 1973]
13 Hiroshima, Meu Amor [Alain Resnais, 1959]
14 O Garoto [Charles Chaplin, 1925]
15 Cães de Aluguel [Quentin Tarantino, 1992]

O Poderoso Chefão

10 O Poderoso Chefão
The Godfather, Francis Ford Coppola, 1972

A virada de Michael. A morte de Sonny. Os atentados coordenados. A cabeça do cavalo. Com quantas muita cenas se faz uma obra-prima?

La Jetée

9 La Jetée
La Jetée, Chris Marker, 1962

Como restaurar um mundo destruído pela guerra? Chris Marker faz o filme mais incrível sobre viagens no tempo tomando por base uma narração em off e uma série de fotografias.

Vá e Veja

8 Vá e Veja
Idi i Smotri, Elem Klimov, 1985

A dor da guerra, visceral e profunda, filmada de uma maneira jamais vista. O olhar mais triste da história do cinema.

A Paixão de Joana d'Arc

7 A Paixão de Joana D’Arc
La Passion de Jeanne d’Arc, Carl Theodore Dreyer, 1928

Os olhos de Falconetti. A fé e as certezas de Joana. A tortura. A dor. A verdade. Faz 90 anos que Dreyer filmou esta história e até hoje ninguém conseguiu chegar nem perto disso.

Zabriskie Point

6 Zabriskie Point
Zabriskie Point, Michelangelo Antonioni, 1970

Como você registra o pensamento revolucionário? Você não registra. Você faz isto aqui. O filme de Michelangelo Antonioni vai muito além da utilização do cinema como instrumento político ou veículo de debate. Seria muito natural para um cineasta de tendências esquerdistas ligar a câmera e capturar ou encenar discussões filosóficas ou sociológicas numa época em que o mundo, nos mais variados lugares e com as mais variadas pessoas, cobrava transformação. Mas a Antonioni não interessava registrar a revolução. Zabriskie Pont é, em si, a revolução.

Um Tiro na Noite

5 Um Tiro na Noite
Blow Out, Brian De Palma, 1981

Que tiro foi esse, hein, De Palma? Uma das maiores homenagens ao ofício de fazer cinema disfarçada como um dos melhores thrillers políticos de todos os tempos.

Tubarão

4 Tubarão
Jaws, Steven Spielberg, 1975

O filme-efeito, o filme-motor, o filme como espetáculo.

Janela Indiscreta

3 Janela Indiscreta
Rear Window, Alfred Hitchcock, 1954

E quando o maior dos cineasta faz um filme que é, em si, o cinema?

A Tortura do Medo

2 A Tortura do Medo
Peeping Tom, Michael Powell, 1960

O assombroso poder que a câmera tem de nos apavorar.

Aurora

1 Aurora
Sunrise: A Song of Two Humans, F.W. Murnau, 1927

No ano passado, tive a chance de, pela segunda vez, ver Aurora” no cinema e eu não canso de me impressionar. Agora, não com a tecnologia, os efeitos especiais lindamente manufaturados, mas com o susto. O horror de uma mulher que não reconhece mais o homem que ama no sujeito curvado, de postura monstruosa, que virou uma ameaça. O horror de um homem que vê a mulher que tanto amou em pânico por sua causa. Um horror consigo mesmo, com o que se tornou. A sequência da chegada do casal à cidade é simplesmente espetacular. Esta obra-prima de Murnau permanece há anos no posto de meu filme favorito.

Vocês perceberam que tem poucos filmes dirigidos por mulheres na lista? Eu também achei. Por isso, vai uma última lista para celebrar o cinema sob o olhar feminino.

Bom Trabalho

TOP 15 FILMES DIRIGIDOS POR MULHERES

1 Bom Trabalho [Claire Denis, 1999]
2 Jeanne Dielman [Chantal Akerman, 1975]
3 Cléo das 5 às 7 [Agnès Varda, 1962]
4 O Pântano [Lucrecia Martel, 2001]
5 Encontros e Desencontros [Sofia Coppola, 2003]
6 As Pequenas Margaridas [Vera Chytilová, 1966]
7 Shara [Naomi Kawase, 2003]
8 O Piano [Jane Campion, 1993]
9 Toni Erdmann [Maren Ade, 2016]
10 Paris is Burning [Jeannie Livingston, 1990]
11 A Ascensão [Larisa Shepitko, 1977]
12 Os Renegados [Agnès Varda, 1985]
13 Uma Vida Simples [Ann Hui, 2011]
14 Mar de Rosas [Ana Carolina, 1977]
15 Wendy e Lucy [Kelly Reichardt, 2008]

Comentários

comentários

2 comentários sobre “Filmes do Chico: 15 anos, 10 listas de 15 e uma lista de 100”

  1. Como você consegue lidar com tanta informação? Meodeos! E, olhando suas listas, fico com a sensação de que o cinema vem piorando ao longo do tempo. Percentualmente, tem poucos filmes das últimas décadas. A que você deve isso?

    1. É uma lista de melhores de todos os tempos, Leonardo. Os melhores de todos os tempos precisam, na minha opinião, de um tempo de estrada pra ver o quanto deles fica pra história e pra memória.

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