O instinto de sobrevivência tirou Tomas da mesa naquele almoço na estação de esqui. Uma reação instantânea ao medo da morte que custou a ele a confiança de sua família. Afinal, o que nos move?, questiona o cineasta Ruben Östlund. O protagonista de Força Maior precisa arcar com as consequências de ter agido por impulso num momento de perigo. O filme coloca Tomas no meio de um dilema que ele tenta evitar a qualquer modo. Ele acha o que aconteceu tão inconcebível que nega sua atitude de autopreservação não apenas para os outros, mas para si mesmo. A força maior do filme de Östlund não é a natureza, mas a natureza humana. E o diretor nos enche de perguntas e reflexões. Retirados todos os construtos da sociedade, o que sobra na nossa essência? Como lidar com o animal que guardamos dentro de nós?
É tão devastador perceber o quão primitiva é nossa alma que a Tomas sobra apenas a possibilidade de ficcionalizar a vida. Suas tentativas de colocar panos quentes no problema parecem ações desesperadas de homem que olhou para dentro de si mesmo e viu algo que não gostaria de ver. O debate moral é a base do trabalho de Östlund e o sueco se revela um ótimo manipulador de ânimos. Ao espectador é dado a incômoda tarefa de escolher um lado. Da mesma maneira que o ato de “covardia” gera repulsa, o medo do protagonista de perder tudo aquilo que construiu pede compaixão. O cineasta constrói o trauma da personagem nos moldes do melodrama familiar gélido como manda a tradição escandinava, mas talvez apresente tantos “finais” antes da solução que encontra para a trama que o desfecho, que parece servir para empatar as coisas para o marido, diminui um pouco o impacto da discussão. Mas o estrago na relação com a esposa, com os filhos e com ele mesmo já está feito.
Força Maior ½
[Force Majeure, Ruben Östlund, 2014]
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