Faz tempo que eu trabalho em televisão e, nesses anos todos, vi poucos filmes que conseguissem retratar com alguma fidelidade os bastidores deste meio. Geralmente se está tão interessado em demonizar a área que a falta de pesquisa incomoda, banaliza e compromete o resultado final. Dessa maneira, seria difícil acreditar que Ron Howard, um cineasta comumente medíocre, quando não ruim mesmo, fosse capaz de comandar um filme bom sobre a entrevista que Richard Nixon deu ao jornalista britânico David Frost depois de renunciar à presidência dos Estados Unidos por causa do Watergate.
A missão era árdua: ser responsável ao tratar de um momento histórico importante e delicado, transportar para o cinema um texto herdado de uma peça de teatro e, embora o filme não se concentre nos bastidores de um emissora de TV e tenha um foco um pouco mais aberto, ser fiel ao universo que tenta recriar. Se a tarefa seria difícil até para cineastas com talento reconhecido, imagina para Howard, responsável por babas hollywoodianas como Uma Mente Brilhante e A Luta pela Esperança? Mas o resultado surpreendeu: Frost/Nixon não é apenas bom; é ótimo.
O primeiro ponto positivo foi a escolha de atores. Frank Langella e Michael Sheen reprisam seus papéis no teatro e são os carros-chefes do filme. Langella, como disse o Sérgio Alpendre, está em “estado de graça”. Sua interpretação é impressionantemente detalhista e segura. O ator mostra uma habilidade única em equilibrar o Nixon personagem e o Nixon real. Michael Sheen também surpreende, imprimindo um toque ingênuo e doce ao showman Frost, evitando a caricatura. Kevin Bacon, Sam Rockwell e Oliver Platt têm momentos excelentes, com destaque para o equilíbrio de Bacon e a cena impagável em que Platt “interpreta” Nixon.
Howard parece nunca deixa os atores passarem do ponto, embora todos pareçam ter bastante liberdade para criar. O diretor trabalha ainda com um trunfo: Peter Morgan, o autor da peça original limpou a herança teatral do roteiro, mesmo em se tratando de um filme que se ergue sobre texto e interpretações. Howard estrutura seu longa como um filme documental, em ordem cronológica devidamente explicitada e com intervenções em que os atores, na pele de seus personagens, avaliam e explicam contextos e bastidores. Nada é exatamente original, mas cada parte funciona perfeitamente e resulta num filme coordenado com segurança e um talento inédito ao diretor.
Frost/Nixon
[Frost/Nixon, Ron Howard, 2008]
o filme é muito bom mesmo. tá na minha lista de melhor elenco, melhores protagonistas, melhor montagem e quem sabe, melhor filme. beijos!
Chicória! Digitei “Frost Nixon” no Google e o terceiro link que apareceu era o seu blog! Chique…!
Só assistindo pelo trailer, dá pra ver que os dois protagonistas do debate de idéias estão excelentes. Por isso, o filme está na minha lista de prioridades quando estrear aqui em Salvador.