Homem-Formiga

O filme acaba e antes das cenas extras – são duas e ambas valem a pena – o garotinho de uns 10 ou 11 anos, que provavelmente gostou do que viu a julgar pela ótima reação da plateia, faz uma reflexão: “eu acho que o primeiro filme tinha que ser com o Hank Pym como Homem-Formiga”. A reclamação do marvel boy faz sentido. Ao longo de todo este projeto, as notícias relacionadas à produção causaram desconfiança nos mais puristas, o autor do texto incluído: 1 Scott Lang é o protagonista; 2 o filme é uma comédia com Paul Rudd no papel principal; 3 Edgar Wright abandona a direção; 4 Peyton Reed assume a direção; 5 cadê a Vespa?

Mas depois que o tumulto de troca de comando e de se acostumar com a ideia de Lang ser o herói principal (para quem não conhece a história, Hank Pym é o Homem-Formiga original e Lang assume o uniforme bem depois), as expectativas mudaram em relação ao filme, sobretudo depois que a segunda aventura dos Vingadores não empolgou tanto assim. Um longa com um herói fora dos holofotes e com ótimas possibilidades de efeitos visuais parecia ter mais chances de funcionar. Faltava descobrir se Rudd colocaria seu talento como humorista em favor da personagem ou se Homem-Formiga viraria mais um exemplar desta nova comédia americana, chata que só.

E o resultado é surpreendente em todos os sentidos. Primeiro, Peyton Reed impõe uma leveza ao material que falta em muitos filmes da Marvel, mas sem perder o respeito com a criação de Stan Lee. O roteiro encontra uma maneira inteligente de espalhar o humor ao longo do filme, em doses homeopáticas, o que levanta a bola para o desenvolvimento da história e não enxerga as piadas como objetivo final. O próprio Rudd entende bem até onde deve ir com a comédia e parece bem à vontade com o papel. O filme flui que é uma beleza, quase tão bem quanto Guardiões da Galáxia.

Segundo, o texto é tão bem amarrado que a ideia de trazer Lang para o centro da história parece mesmo uma boa ideia. Como Homem-Formiga é um filme de assalto clonado para o universo dos super-heróis, é mais lógico colocar um “escape artist” como protagonista, o que não significa escantear Hank Pym, que ganha um Michael Douglas inspirado em sua defesa e estrela uma das cenas mais emocionantes do longa, um flashback em que assume o uniforme do herói. Esta mesma construção inteligente encontra um meio de homenagear e explicar a ausência – ausência? – da Vespa. E ainda há espaço para citar o The Cure.

Além disso, como já era de se esperar, o filme acontece num momento perfeito, em que a tecnologia fornece um aparato mais do que suficiente para se criar um longa com uma personagem minúscula: os efeitos visuais parecem simples ao mesmo tempo em que são espetaculares e o roteiro aproveita muito bem suas possibilidades. Há um punhado de cenas deliciosas, como a primeira vez de Lang no traje, a descida pela tubulação e o momento mais impressionante do filme, em que o herói diminui até o nível subatômico, o que permite que os artistas gráficos criem um belíssimo trabalho fora da casinha.

No saldo, ainda há de se comemorar o fato deste ser um dos filmes mais bem costurados a um Universo Marvel cada vez maior e mais definido. Todos os diálogos e cenas que ajudam a inserir o longa ao lado de seus pares são bem construídas e verdadeiramente empolgantes, principalmente, aquela em que o herói encontra com um dos Vingadores. A primeira das cenas escondidas é especial e dá novas perspectivas para a personagem de Evangeline “Lost” Lilly. Se o lado mais fraco da balança é o vilão unidimensional de Corey Stoll, com Homem-Formiga, a Marvel prova que é possível seguir um caminho bem mais discreto sem perder as características de seus heróis. Tamanho, neste caso, não é mesmo documento.

Homem-Formiga EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Ant-Man, Peyton Reed, 2015]

Comentários

comentários

Um pensamento sobre “Homem-Formiga”

  1. Acho que a Marvel exagerou um pouco em relação a cena extra durante os créditos.
    Acredito que ela poderia ter sido incorporada ao filme em si, não havendo a necessidade da cena extra.
    Senti como algo forçado pela Marvel.

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