Homem Irracional

Desde 1982, Woody Allen entrega pelo menos um filme por ano. Mas nos últimos tempos parece que se tornou um hábito do veterano diretor, conhecido tanto pelos dramas complexos quanto pelas comédias escrachadas, tomar um fôlego depois de um trabalho mais elaborado. Para cada bom filme que dirige, um mais ou menos vem na sequência. Depois dos ótimos Meia-Noite em Paris e Blue Jasmine, por exemplo, ele lançou os esquálidos Para Roma, com Amor e Magia ao Luar, respectivamente. Por essa lógica, as perspectivas eram boas para Homem Irracional. E ele começa bem.

Allen prepara bem o terreno para que seu conto moral sobre crimes e castigos seja desenhado. Convoca a solar Emma Stone, estrela de seu fraco filme anterior, para fazer a estudante que cai de amores pelo novo professor. Já personagem de Joaquin Phoenix, em sua primeira parceria com o cineasta, traz muitas das questões de outros tantos personagens de Woody Allen. Mas, ao contrário de vários dos últimos protagonistas do diretor, o ator evita fazer de sua performance uma imitação. Phoenix, pelo contrário, transforma o professor em crise existencialista num sujeito de aparência forte, mas frágil e melancólico por dentro. Por isso mesmo, irresistível para seus alunos.

É uma saída bem digna para evitar os tiques tão marcados que perseguem as personagens de Allen. Seus dilemas se tornam mais humanizados e sua falta de vontade de viver, extremamente compreensível, quase adolescente. É por isso que se transformar numa espécie de justiceiro parece uma alternativa tão viável. Allen costura esses caminhos com linha fina, mas firme, e o filme ganha uma vulnerabilidade esquisita, mas muito atraente. O desenvolvimento do pós-crime é que redimensiona as coisas. As decisões apressadas, comuns a muitos dos filmes do diretor, incomodam porque parecem acelerar uma história que acontecia sem pressa. O momento de resolução, atropelado, funciona melhor do que a sequência de descobertas que levam a ele e até nossa permissividade com as imprecisões que apareciam aqui e ali fica menor.

A sensação é de que Homem Irracional é um avião que se prepara demais para levantar voo, mas permanece taxeando. Isso bem na vez dele entregar um filme bom pode ser um tanto frustrante.

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[Irrational Man, Woody Allen, 2015]

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