Mas, vejam só, é exatamente isso o que Clint não faz. O velho diretor aposta justamente nos clichês. Na verdade, em como administrá-los de uma maneira que quem assista ao filme perceba que está sendo intimado a torcer para que o plano do personagem dê certo, mas não se sinta nem um pouco incomodado por isso. Melhor: decida que isso é a coisa certa a fazer. A tática do cineasta é trabalhar num tom abaixo do que filmes com histórias semelhantes costumam ser conduzidos. As decisões tomadas por Mandela, na visão de Clint, não são grandiosas nem merecem celebração antecipada. O personagem enxerga o mundo com bastante clareza e suas ações parecem prolongamentos naturais do que a situação exige. O Mandela de Clint trabalha com a demanda.
E para compor um personagem sem excessos, Clint contou com um ator que há tempos não nos oferecia uma interpretação tão boa. Morgan Freeman constrói um Nelson Mandela absolutamente espontâneo, linear, naturalmente correto. É imensamente fácil se apaixonar por ele e pela maneira simples e direta como ele se manifesta. Freeman evita a caricatura, mas não economiza nos artifícios para deixar seu personagem encantador. E é exatamente isso o que Clint faz no longa como um todo. Há frases de efeito, cenas que flertam com o maniqueísmo e um uso indiscriminado da câmera lenta para dar cabo do projeto deste filme, mas nenhum desses maneirismos parece abalar a estrutura sedimentada pelo diretor. Pelo contrário, eles reforçam a proposta do cinema de Clint. Invictus parte do básico, do óbvio, do simples para resgatar o fundamental.
Invictus
Invictus, Clint Eastwood, 2009
Um filme que tem muita coisa comum, mas nunca vi nenhum outro tratar uma história esportiva, real ou fictícia, desta forma. A naturalidade ao mostrar a realidade sul-africana é instigante.
Na sessão que eu vi todos esperaram até os créditos para verem as fotos do jogo real.
Bruna, eu acho justamente que essa constância faz parte da proposta de cinema do Clint.
Gildinho, concordo que haja uma empostação, mas eu acho que isso parece tão natural no filme que as qualidades ultrapassam os lugares comuns.
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De bom pra ótimo essa apologia a África do Sul, em ano de Copa. Imagino que Mandela faça discursos e reuniões exatamente daquela maneira, mas com menos frases de efeito, claro. Uma cena particularmente emocionante é a do campo de subúrbio com crianças gritando o nome do único jogador negro da seleção de rugby. Filme intenso que só não ficou melhor pela exagerada intenção de ser poético.
Não gostei tanto desse filme não.
Achei muito constante, mas as atuações
estão ótimas.
Uma semana antes tinha visto um filme
com o Morgan Freeman fazendo o papel
de Nelson Mandela (End Game), e em
Invictus ele foi incrivelmente melhor
fazendo o mesmo personagem 🙂