IRREVERSÍVEL

Fazer filme de trás pra frente está na moda. Do ótimo curta brasileiro Palíndromo (01), de Philippe Barcinski, ao bom cult norte-americano Amnésia (01), de Christopher Nolan. Desta vez, é a França quem brinca com a cronologia. Irreversível, à primeira vista, é mais simples que o colega dos EUA. Enquanto Amnésia vai e volta no tempo, o filme de Gaspar Noé se mantém de trás pra frente o tempo inteiro. Christopher Nolan nos propõe um jogo, onde o obejtivo é descobrir o que aconteceu. Aqui não. O espectador é convidado a ver como tudo começou. O início é o fim e o fim é o início. Basta seguir o fluxo.

Noé faz cinema francês novo, moderno, urbano, até pop. Dispensa o discurso cabeça que afastou muita gente dos filmes que vinham da França. Guarda semelhanças com o que Matthieu Kassovitz fez com O Ódio (95), do qual herdou o protagonista Vincent Cassel. Mergulha na violência do dia-a-dia. Sem questionar, se atreve a mostrar. A cena mais comentada e atacada de Irreversível é o famoso estupro de mais de dez minutos sofrido por Monica Bellucci, muito mais linda que em Matrix Reloaded (03), mas a violência de um assassinato dentro de uma boate nos minutos iniciais do filme é difícil de tirar da memória. O cineasta impõe uma força impressionante ao filme. Força bruta porque tem coisa que só vai na porrada.

É comum atacar o filme por sua exposição, talvez excessiva, da violência, mas Irreversível não parece ser um filme feito para chocar necessariamente. É mais uma experiência com o tempo e com o espectador. Os efeitos de sua narrativa e de sua velocidade acelerada parecem ser bem mais importantes para Noé que a crueza de algumas cenas. Noé lança significados e correlações para que o espectador ligue tudo o que está acontecendo. Nem tente. Não dá para pegar todas as pistas com uma só olhadela no filme. Irreversível mostra o quanto você está acostumado a olhar para as coisas por um só lado só. Basta mudar o jogo para você se atrapalhar. E isso é bom.

Irreversível
Irreversible, França, 2002
Direção, Roteiro e Edição: Gaspar Noé.
Elenco: Vincent Cassel, Monica Bellucci, Albert Dupontel, Jo Prestia, Philippe Nahon, Stéphane Drouot, Jean-Louis Costes, Mourad Khima, Gaspar Noé.
Produção: Christophe Rossignon. Fotografia: Benoît Debie e Gaspar Noé. Música: Thomas Bangalter.

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