Clint Eastwood tem produzido tanto nos últimos anos que seus filmes às vezes parecem feitos às pressas. Deve soar muito gay reclamar da maquiagem de um filme, mas em J. Edgar ela é fundamental para a história que o cineasta quer contar. Fundamental e de uma incompetência inadmissível. É impossível olhar para Leonardo Di Caprio sob as toneladas de maquiagem e acreditar que ali existe um homem nos últimos anos de sua vida. A caracterização pesada reflete, em certo sentido, a mão de Clint no material.
O diretor parece tentar oferecer todas as faces do ‘dono’ do FBI, J. Edgar Hoover, mas o filme é, em sua essência, um relato de um admirador. Porém, ao contrário do que fez com Nelson Mandela em Invictus, em que não se poupa dos excessos para desfilar sua admiração por Nelson Mandela, aqui Clint tenta não exagerar – e geralmente consegue – no retrato do personagem. Afinal, ser fã de Hoover não deve ser lá muito nobre. No entanto, o resultado dessa tentativa de equilibrar o discurso tem um efeito reverso.
O resultado é um filme morno, mas muito competente tecnicamente. A fotografia, quase sem cor, tenta acompanhar a discrição que Clint impõe, sobretudo no retrato da homossexualidade de Hoover. Ela nunca é ignorada, mas em poucos momentos é protagonista. Há uma cena em que o assunto explode que poderia ser mais forte do que é, mas fica claro que o roteiro de Dustin Lance Black, de Milk, não quis que o filme fosse sobre um Hoover gay.
Leonardo Di Caprio, que é um bom ator e que merecia mais respeito, está bastante correto, esforçado. Há momentos de grande interpretação, mas em algumas cenas ele parece claramente intimidado pelo papel. A maquiagem, muito menos. Os coadjuvantes não tem muito destaque: a mãe forte de Judi Dench beira a caricatura, o amante apaixonado de Armie Hammer é apenas ok (a indicação ao prêmio do Screen Actors Guild é descabida) e Naomi Watts é eclipsada pelo pouco tempo na tela.
Todos, no entanto, parecem traduzir a maneira “preocupada” com que Clint Eastwood dirige o filme. O relato sombrio de Hoover esbarra nessa timidez em encarar o objeto. Nem a revelação da maneira como o protagonista construía seu personagem, ficcionando suas participações nas capturas de grandes fora-da-lei, ganha a força que merecia. O maior pecado do filme de Eastwood não é ser reverente, mas não tomar partido.
J. Edgar
[J. Edgar, 2011, Clint Eastwood]
Achei o filme morno também,mas achei bom e básico,creio que Clint não queria tanta atenção para esse filme,pois se ele realmente quisesse isso aconteceria. 😉