O cinema ficou mais preguiçoso quando começou a falar. A chegada do som, mais especificamente da voz, acomodou grande parte dos realizadores, que, até então, desenvolviam um trabalho de criação de linguagem cada vez mais elaborado. De uma maneira geral, os filmes silenciosos foram banidos, reduzidos à condição de obras ultrapassadas, celebrados apenas em círculos restritos.
Há seis anos, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, abriga um festival dedicado exclusivamente aos filmes mudos. A Jornada Brasileira de Cinema Silencioso talvez seja o mais interessante festival de cinema realizado no país. Todos os filmes, em pelo menos uma sessão, são exibidos com acompanhamento sonoro, desde trilhas tradicionais tocadas ao piano até equipe de sonoplastas e interferências sonoras, grupos de jazz e performances vocais. Cada apresentação é um espetáculo.
Nos últimos anos, clássicos e filmes raros ganharam exibições especiais. Neste ano, a jornada muda de mãos. O criador do festival, Carlos Roberto de Souza sai para dar espaço a uma equipe capitaneada por Adilson Mendes. A programação de cinema será dividida em quatro mostras. A única tradicional é a “Destaques de Pordenone”, que exibe filmes do acervo do mais importante festival de cinema silencioso do mundo, na Itália.
Será exibida a sessão Os Perigos do Cinematógrafo, composta por curtas produzidos entre 1911 e 1913, e que observam a presença do cinema no cotidiano da época. O programa As Funny Ladies da Coleção Desmet exibe comédias curtas realizadas entre 1912 e 1914, estrelas por mulheres. Dois longas completam os destaques: Esposa e Mártir, de Sam Wood, estrelado por Rudolph Valentino e Gloria Swanson, e O Jovem Pastor, com Betty Compson.
A mostra Luzes e Sombras é dedicadas aos filmes expressionistas, com destaque para os clássicos O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, que ganhará apresentação nas paredes do auditório do Ibirapuera, e A Carruagem Fantasma, de Victor Sjöström. O thriller alemão Sombras – Uma Alucinação Noturna, de Arthur Robinson, também merece atenção.
Haverá uma seleção especial de filmes brasileiros feitos nos anos 20 sob encomenda e uma mostra sobre o cinema soviético dos anos 20, com destaque para Arsenal, de Aleksander Dovjenko, A Menina com o Chapéu, de Boris Barnet, e As Extraordinárias Aventuras de Mr. West no País dos Bolcheviques, que abre a jornada neste sábado. Mas além dos filmes, o festival terá uma novidade que promete popularizar a edição.
O Salão das Novidades será uma espécie de releitura das feiras da virada do século 19 para o 20, com espaço para a aparesentação de ilusionistas, mágicos chineses, homens de perna de pau, shows de terror, mulher barbada, projeções ao ar livre, videntes, artistas de teatro, de circo e até as notáveis presenças do Dr. Caligari e da Vênus de Hotentote. A programação dos salão acontecerá no sábado e no domingo, com reprise no fim de semana que vem, das 16h às 22h. Os filmes serão exibidos a partir das 16h, todos os dias.
Mais informações no site da jornada ou no perfil da Cinemateca no Facebook.
ótima resenha, e mais detalhada do que o da catraca livre, agora me animei…
Vale super a pena, Coruja!